terça-feira, 28 de agosto de 2007

Foi Assim II

Tenho estado de férias e (salvo esta rara excepção) muito longe de qualquer possibilidade de acesso à internet e à blogosfera - Deus seja louvado por isso, que eu bem precisava deste descanso. Aproveitei entretanto para pôr algumas leituras em dia e foi assim que, na sequência duma promessa anterior me deitei a ler o "Foi Assim" de Zita Seabra.

Impressionou-me a descrição daqueles dias de medo e solidão, daquela entrega total e gratuita ao que, para si e naquela altura, era a causa mais bela e nobre que alguém poderia abraçar, a luta pelo supremo bem! Confesso que li a obra com o mesmo tipo de paixão com que se lê um bom romance. Senti-me na pele da autora, sofri com ela, tive medo por ela, vibrei com ela no "dia da liberdade", senti o alívio de poder viver já sem medo. Senti-lhe a alegria de poder voltar a estar com a família e com os amigos de quem se separara havia tantos anos; de poder finalmente encontrar-se frente a frente com caras que sabia existirem mas que nunca tinha podido olhar. Quando parecia que se iria finalmente realizar aquilo porque tanto lutara, consegui perceber o seu empenhamento nessa causa e a obediência cega aos que determinavam o rumo deste "grandioso" momento da história do nosso país.

Finalmente, vivi com ela os tempos de encontro directo com o comunismo real. Senti-lhe a decepção, o horror, a culpa. Intuí-lhe o desespero do sofrimento por uma causa que, não só era uma perfeita mentira, como se revelou como a mais horrível e monstruosa criação da humanidade...

Achei muito importante a denúncia das mentiras e dos enredos enganosos que todos conhecíamos ao Partido Comunista e a Álvaro Cunhal, mas que nunca tinham sido tão sistemática e, nalguns casos, pormenorizadamente descritos. Foi importante ter-nos feito perceber que estivemos por um fio de sermos engolidos por toda essa vergonhosa trama em que a autora tem a coragem de assumir a sua participação activa.

Só me pareceu ter ficado a faltar nesta obra uma referência, senão um agradecimento, por breve que fosse, e que me teria parecido justa, a todos aqueles que, conhecendo de há muito o comunismo real lutaram, antes e depois do 25 de Abril, com todas as suas forças, muitas vezes contra a própria autora, para que tal desgraça nunca caísse sobre Portugal (incluíndo colónias onde, infelizmente, isso não foi conseguido). Mas não me sinto no direito de exigir mais a quem acordou deste longo pesadelo que viveu tão intensamente e durante tanto tempo. Esse pesadelo que, como referi acima, foi a mais horrível e monstruosa criação da humanidade.

"Foi Assim" de Zita Seabra é um livro de que recomendo a todos a leitura.

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