sexta-feira, 10 de agosto de 2007

O amor de Deus

Partiste quando as crianças jogavam à bola no pátio, quando os teus filhos na dor, na solidão e no sofrimento tomavam banho e não sabem o que é a morte. As nossas crianças do campo de férias são teus filhos, Inácio, amam a vida e constroem -na para lá da ausência, da separação, da raiva da expurgação. Uma criança é fruto de um gesto, uma consequência que ultrapassa a individualidade dos seres. Estar vivo é aceitar que se pode amar, caminhar. Partiste durante o nosso campo de férias. Quando a inocência, o gesto incontrolado, e o sorriso eram o fruto. Lembro-me de ti, Inácio, a tua vida escorria sangue, fel, ruptura. Mas tu não amavas as palavras, as cadências, a ti o que te sobrava era a vontade, o gesto que se aproximava da acção, qualquer coisa vital. Choraste uma vez à minha frente há muito anos atrás quando as crianças corriam no pátio como hoje e te esqueceste dos frutos da figueira, que a dor tem um nome.Falavas da cidade de Lisboa que tu amavas, das ruas que só tu conhecias, e do tempo que não é este tempo. As tuas feridas eram as de um povo, uma nação, uma terra que aprendeste a amar. O amor de Deus supera, ultrapassa, guia, orienta. Deus quer que tu estejas ali onde estás agora. As crianças orfãs, sem pai, mãe, abandonadas, esquecidas, jogam no pátio. Os teus filhos são parte do amor de Deus. Adeus, Inácio, reza por nós, que a redenção vença o egoísmo.

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