quinta-feira, 29 de maio de 2008

Chartres

A catedral de Chartres é o mais belo dos lugares. De todos os lugares. Onde diante das pedras lavadas pela fé se coloca a essência: os homens, cada criatura e o Criador. Deus e o Homem. Este diante do Pai, à procura do Pai. Tudo é grande, desmesurado, imenso, ampliado. Deus está dentro, no lugar de Deus. Uma catedral, qualquer catedral, é o maior símbolo vivo da unidade do povo crente. Em Chartres existe cada homem em busca de si, à procura, imerso na história de outros homens que são a sua história. As pedras e os vitrais, a luz e a cripta de Chartres não são antigos, nem de hoje. São o lugar sempre actual do sacrifício e do amor, da fé e do saber, da busca e da presença, do testemunho e da glória. É o lugar actual de todos os tempos, da pobreza e do trigo. De homens esculpidos na História de Deus no Homem. A grandeza de Chartres não é o eu, o espelho do eu, a redoma do eu. É o eu projectado no lugar que afirma o que sou e a verdade mais funda que me habita. Em Chartres só existe a verdade: a luz que explode dos vitrais é a luz de Deus. Dentro, recortado pelas linhas da sombra e da claridade, só resta o silêncio, o longo silêncio da vergonha e da compaixão, da mentira e da redenção. Chartres é o Lugar. Todos o procuramos: um traço, um abrigo,um gesto, um beijo, uma palavra , um verbo. Seguramente que a sabedoria e o acolhimento da vida só se realiza quando encontramos um Lugar, peregrinação eterna. É Chartres. Lugar de Deus, do Homem, das lágrimas puras.
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Três notas sobre esta viagem fabulosa:
a) A missa na cripta da Catedral. Um longo corredor escuro ao fundo, pinturas do sec.XIII, o coração esmagado pela beleza da fé.
b) A lição antológica dada pelo Padre Pedro diante da Catedral, sobre a História da Europa e do Cristianismo nos séculos XII / XIII. Ficará gravada na memória para sempre.
c) Do lado direito da Catedral, a uns 4oo metros, encontramos um jardim e, descendo as escadas, no patamar inferior, à beira da estrada, uma pequena homenagem a Peguy, um dos maiores escritores do sèculo XX. Uma frase na parede frontal e o rosto de Peguy colado na pedra. A fronte, saliente, adivinha-lhe a inteligência. As heras quase cobrem a frase e o jardim está algo descuidado. Este tempo esqueceu Peguy, esqueceu a essência.

Um imenso obrigado a todos: a Sara, Catarina, Sofia, a Carla e o Nuno, o Abrantes, o Paulo e o primeiro de todos nós, o Padre Pedro.

1 comentário:

Anónimo disse...

Obrigada por este magnífico postal de Chartres revisitada na essência da Fé!