sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

A pusilanimidade e o maior drama da humanidade

Referindo-se a uma expressão do general Franco em resposta ao que um dos seus médicos lhe dizia acerca da grande confusão que poderia ocorrer em Portugal, onde poderia vir a correr muito sangue: “Não acredito nisso, os portugueses são muito cobardes”, diz Miguel Alvim, num artigo publicado ontem no jornal Público, que o que é certo é que o mesmo nunca nos testou e conclui que: “O verdadeiro exercício da liberdade faz-se na escola da responsabilidade, ou seja, da escolha e acção bem ordenadas, que só podem ser uma. Daí a dificuldade em não se ser pusilânime”.
Isto é escrito a propósito da maioria que em Portugal e Espanha preferiu um dia ser pusilânime – do latim pusillanime, de alma pequenina – e cobarde não se opôs à prática do aborto em determinadas condições.
Logo na página a seguir do mesmo jornal surge um outro texto escrito por Rui Tavares, intitulado “O maior drama da humanidade”, em que o seu autor escreve que o facto de D. José Policarpo – não deixa de ser desde logo significativo que o autor se refira ao Cardeal Patriarca como “José Policarpo” - na homilia do Dia de Natal designar o ateísmo como o maior drama da humanidade, só poderá ser entendido se o mesmo estiver a falar apenas para os fiéis e que «…esse é um dos problemas de falar para dentro e, em particular da “viragem europeia” que Bento XVI impôs ao Vaticano. Para poder combater a irreligiosidade na Europa, a prioridade passou a ser a doutrina, em detrimento dos problemas que realmente causam sofrimento à humanidade em todos os continentes».
Continua o mesmo autor, dando mostras claras da sua ignoratio elenchi (ignorância do assunto), que estas preocupações da Igreja não passam senão de discussões acerca do sexo dos anjos, isto é, questões de mera retórica: “…se os europeus virem a Igreja mais preocupada com jogos de linguagem do que com o sofrimento real, acabará por agravar ambos os problemas”.
Assim, está bem de ver, a Igreja “não vai lá” porque “a estratégia está errada”.
Apetece-me dizer: ainda bem que temos o Rui Tavares.
O drama desta gente é que ignora que faça o que se fizer, se for feito sem Deus e sem ser para Deus, mesmo que humanamente se considere um êxito, é sempre mal feito. Cria a ilusão que o homem pode fazer bem sem Deus e outra ainda pior: que aquilo que se faz é indiferente ao destino de cada um.
Fazer bem é escapar à pusilanimidade; é deixar que aconteça em nós o Fiat de outrora, assumindo conscientemente que a nossa grandeza consiste em compreender que “Deus é Aquilo maior que o qual nada se pode pensar”.
Deixar que o Maior conduza a minha vida é fazer Bem!


terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Natal

"Nalgumas representações natalícias da Baixa Idade Média e princípios da Idade Moderna, o curral aparece como um palácio arruinado. Ainda se pode reconhecer a grandeza de outrora, mas agora foi à ruína, as paredes caíram: tornou-se, isso mesmo, um curral. Embora não tendo qualquer base histórica, esta interpretação, no seu aspecto metafórico, exprime contudo algo da verdade que se encerra no mistério do Natal. O trono de David, para o qual estava prometida uma duração eterna, encontra-se vazio. Outros dominam sobre a Terra Santa. José, o descendente de David, é um simples artesão; na realidade, o palácio tornou-se uma cabana. O próprio David começara por ser pastor. Quando Samuel o procurou para a unção, parecia impossível e absurdo que semelhante jovem-pastor pudesse tornar-se o portador da promessa de Israel. No curral de Belém, lá precisamente onde se verificara o ponto de partida, recomeça a realeza davídica de maneira nova: naquele Menino envolvido em panos e recostado numa manjedoura. O novo trono, donde este David atrairá a Si o mundo, é a Cruz. O novo trono – a Cruz – é o termo correlativo ao novo início no curral. Mas é assim mesmo que se constrói o verdadeiro palácio davídico, a verdadeira realeza. Este novo palácio é muito diverso do modo como os homens imaginam um palácio e o poder real: é a comunidade daqueles que se deixam atrair pelo amor de Cristo e, com Ele, se tornam um só corpo, uma humanidade nova. O poder que provém da Cruz, o poder da bondade que se dá: tal é a verdadeira realeza. O curral torna-se palácio: é precisamente a partir deste início que Jesus edifica a grande comunidade nova, cuja palavra-chave os Anjos cantam na hora do seu nascimento: «Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens que Ele ama», ou seja, homens que depõem a sua vontade na d’Ele, tornando-se assim homens de Deus, homens novos, mundo novo."

Bento XVI,
Ontem, na Missa do Galo

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Soneto Esquecido

O sino clama, sua voz vibrante se entrega aos ventos.
E o vento a leva longe, bem longe, para as distâncias.
O sino tange, sua voz de pranto cai sobre as ruas
Como esta neve, que os céus derramam.

O sino grita, pedindo alma, almas depressa!
E as almas dormem dentro das casas
Dentro dos corpos dos homens que andam
Nas ruas longas, nas grandes ruas, nestes desertos.

O sino chama, que o Deus menino
Está a nascer. E não há pastores nas cercanias.
Nem há sequer, para aquecê-lo dos grandes frios
Os bichos mansos de antigamente.

E os sinos chamam pelos Reis Magos,
Talvez perdidos nest’hora escura
E o sino chora. Ninguém o ouve. E todos dormem.

Não há mais almas, sinos parai!

Augusto Frederico Schmidt

sábado, 22 de dezembro de 2007

Memórias do Natal

Um misto de ingénuo espanto e ansiedade define a comoção com que eu na minha infância vivia a festa de Natal. Tudo começava na véspera, noite dentro, quando nós os cinco manos, lá íamos com os nossos pais, todos ao monte no velho carocha bege, bem agasalhados e aperaltados, para a missa do Galo. Ainda pequeno, era um sentimento muito especial o de entrar acordado no mistério da noite profunda e estrelada. Lisboa lá estava deserta e fria, mas calorosamente engalanada para a festa. Excepcionalmente para as solenidades natalícias íamos à Igreja de S. Pedro de Alcântara ou Santos o Velho. A ocasião era toda ela especial: a Igreja, quente e iluminada a preceito, tinha um cheiro especial, os cânticos também eram especiais, e o grande presépio ao fundo dominava o panorama. Num autêntico estado de graça eu sentia-me também especial, assim como Jesus que nascia...
Intimamente eu ansiava pelo fim da missa, pelos presentes e a ceia, na Avenida da Liberdade em casa dos avós, noite adentro com os tios e a primalhada toda. Era essa a primeira etapa do glorioso dia que então começava.
Além das coloridas iluminações de rua, o Natal era então também mundanamente anunciado por alguns sinais “televisivos”, que avisavam a chegada das festas. Eram os anúncios de brinquedos, chocolates e perfumes, o inevitável Natal dos Hospitais, e os magalas que logo a seguir ao telejornal mandavam saudades à família, em diferido das colónias.
Mas no Natal são os presentes que tocam profundamente as sedentas criancinhas. Lembro-me daquele Mercedes Dinky Toys, que especialmente para mim, o meu pai pintou de preto e verde para satisfazer o meu capricho de ter um Táxi “como os verdadeiros”. Houve um pequeno “transístor” (rádio a pilhas) revestido de cabedal castanho, oferecido pelo meu padrinho, o avô João, onde eu ouvi as minhas primeiras canções, o “Quando o telefone toca” e os “Parodiantes de Lisboa”. E num qualquer Natal mais próspero lembro-me de ter recebido uma enorme caixa de Mecano, um jogo de construção que fez as minhas delicias durante meses…
E depois havia o chocolate quente na Avenida, cheia de primos, sonhos e outros fritos. E havia o acordar tarde e estremunhado já em Campo d' Ourique, para com os meus irmãos acorrermos estonteados ao nosso sapatinho junto ao presépio... onde milagrosamente já constava o Menino Jesus devidamente deitado na sua manjedoura.
E ao final do dia, com uma réstia de preciosa energia, íamos ainda jantar aos meus avós paternos na Travessa do Patrocínio... para um derradeiro banho de festa, de tios e de outros tantos primos...
O dia seguinte era uma ressaca feliz. Depois, restavam ainda uns dias de férias para empenhadamente brincar com os meus irmãos e com tantos e brinquedos novos. E para numa ida à matinée, a ver um filme de Walt Disney, estrear umas meias de lã, ou uma camisola nova tricotada pela minha mãe. E por esses dias, com a minha curiosidade endiabrada, ia desventrando meticulosamente alguns dos mais fascinantes e plásticos presentes, de corda ou a pilhas, até serem depositados ao monte no grande caixote. Inúteis e abandonados.
Finalmente, depois da passagem de ano, o suspiro moribundo das festas, a vida retomava a normalidade, a rotina. Até a escola implacável, ensonada e fria recomeçar.
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Publicado há um ano no Corta-fitas

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Spe Salvi

Pendurados os preconceitos, engavetadas as leituras de positivismo esquálido que são o paradigma de tudo o que se diz, não tenhamos medo de o afirmar: Spe Salvi é um dos textos mais portentosos que foi escrito sobre o homem contemporâneo. Poucas vezes de uma forma tão profunda se penetrou assim no homem e nas suas categorias fundadoras. Nesta Encíclica, a liberdade e a razão, a fé e a esperança, Deus e a eternidade, ganham uma densidade e uma dignidade que as transportam para um outro plano. Bento XVI eleva a liberdade a um plano insuperável "na liberdade humana não há possibilidade de adição, porque a liberdade é sempre nova e se deve sempre de novo tomar decisões", e é por esta liberdade que o homem tem necessidade de Deus "o ser humano tem necessidade de Deus; de contrário, fica privado de Deus". E a acção, que é a esperança, não é um referente ou um esboço. A esperança é um conteúdo, uma "substância" que liga o passado ao futuro, ao "ainda-não". O valor da vida está assente numa das mais belas frases: "toda a acção séria e recta do ser humano é esperança em acto" e a "Fé é a substância da esperança". Tudo, neste texto, é avassalador, imenso, grande e desmedido. A forma como Bento XVI enfrenta o coração do ateísmo é admirável: não é só a questão da "fé racional" de Kant mas, principalmente o problema de eternidade "... continuar a viver eternamente - sem fim - parece mais uma condenação que um dom" tão cara a um certo tipo de pensamento contemporâneo, Jorge Luís Borges, por exemplo. De uma gratidão imensa a forma como se refere à história de Bakhita ou ao amor do Cardeal Nguyen Van Thuan. Tudo é demasiado grande, demasiado belo, esplendoroso, demasiado iluminoso. Spe Salvi é carne viva, não é gramática de um texto, é a relação de um homem com outros homens, onde está Deus. Spe Salvi é um monumento, uma mudança, outra coisa que não isto. Diante dele só as lágrimas a rolarem, de joelhos, a noite dobrada em dois, o estar - com a solidão, à procura. Deus existe e o homem também. Não há mais nada a dizer. Neste Natal só o silêncio. O grande silêncio. O silêncio de Spe Salvi.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Assim Se Governa

Por estes dias, um membro do governo de Zapatero tentou safar-se aos males de uma inflação que já vai em 6% nos produtos básicos, como a alimentação, e deu a solução às donas de casa: neste Natal, consumam coelho em vez do tradicional perú. “É uma carne sã, ligeira, muito apetecível e barata.”

Nem mais! Deixem-se de frescuras e tradições, que o coelhinho até é bem bom.

Se esta brilhante solução para a crise chega aos ouvidos do nosso governo (que não fica nada atrás em "brilhantismo"), coitado do Zacarias cá de casa, que ainda vai parar à travessa na Noite de Natal!

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

A nossa babilónia

A barcaça marroquina abalroou a muralha do oeste “civilizado” com 23 desgraçados párias a bordo. Enquanto isso o bem nutrido e alucinado "consumidor", entretido nos centros comerciais, contrafeito, mal desvia o olhar das montras iluminadas de mil cores.

Construímos a nossa Babilónia e criámos uma grosseira ilusão de realização e auto-suficiência. No fundo, no fundo, todos reconhecemos a grande mentira com que nos sustentamos, mas recusamos indolentemente a corrigir o curso da nossa história, (a individual, que é a verdadeira) alterar um dedo a nossa cómoda perspectiva, desacomodarmo-nos um pouco que seja da nossa existência entretida e conformada.
De resto, ao ver a chocante fotografia de capa do Diário de Notícias de hoje, com um calafrio realizei como Jesus Cristo do Natal que estamos prestes a celebrar, encontra-se definitivamente “escondido” no emigrante repudiado. E como jamais O encontraremos com o barulho da encenação feérica dum qualquer agitado shopping suburbano.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Kosovo

Há um pensamento único, cego e canceroso, que destrói tudo. Em Portugal, da esquerda à direita, todos dizem que a Presidência foi um sucesso. Isto é uma mentira, um enorme embuste. A Presidência Portuguesa não fez nada, não teve visão, não desbravou um centímetro do que será o futuro. Querem exemplos? Aí vão três. Na Cimeira EU/Rússia Sócrates recebeu Putin como um democrata, não tocou na liberdade de imprensa, nos partidos políticos, nesse pedregulho incomensurável que é a vergonha da Tchechénia. Nem um dedo, um esgar, uma frincha. A Cimeira EU/África teve um grande valor simbólico. Mas não teve rasgo político, resultados palpáveis serão uma miragem. A espada esteve sempre embainhada, guardada no bolso dos conceitos gerais. E estavam ali ao lado Eduardo dos Santos, Kadhafi, Mugabe...só Merkel se lembrou. Sòcrates foi um bom serviçal, mas confundir isso com destreza política é um supremo equívoco. Mas a mentira sublime consumou-se ontem. O Tratado Reformador da União tal como está feito é obra exclusiva de Merkel, Delors do século novo. Sócrates nunca tocou nas feridas, no sal do futuro. O futuro da Europa é hoje, é o Kosovo. Em Janeiro o governo Kosovar vai proclamar a independência, as conversações com os sérvios fracassaram, a Europa vai rasgar-se. Que fez Sòcrates? Os grandes não são os certinhos, os convencionais, são os que espetam o dedo na terra porque amam as coisas e se fermentam no que está para vir. É depravante e lodoso todo este unanimismo.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Ir à bica e a boa vida

Não gosto desta moda da máquina de café Nespresso... dá uma bica a saber a conservantes, aqueles “preparados” têm uns aromas mais próprios de rebuçados. Vão por mim, sou eu que o digo porque já provei algumas "drageias" daquelas. O assunto já foi motivo de acesa discussão com amigos e em família. As opiniões divergem, mas aquilo definitivamente não me apetece. Além de sair cara cada pastilha, quando tomo café em casa, gosto daquele de saco, e se tiver visitas até o faço “de balão”. Cada coisa no seu sítio!
Além disso não me tirem o passeio para o café, na esplanada ou lá dentro, no Paredão ou na Garrett, com o jornal ou um bom livro, sozinho ou em boa companhia. Ir ao café é um ritual imprescindível para o meu equilíbrio, mesmo que seja “à pressa” e ao balcão. É uma boa maneira de começar o dia, comentar com o Sr. Camilo as últimas “da bola” ou do bairro. Nisto de máquinas (caras!) já me basta a Bimbi nova lá em casa, por quem (!) eu morro de ciúmes. Aquela treta de mil euros, que só faz um litro e meio de sopa de cada vez, agora domina a culinária doméstica. Agora é que ninguém mais quer saber dos meus prosaicos petiscos calóricos, gordurosos e tradicionais. É ver a criançada fazer lasanhas e outras habilidades com molho branco e tomatada, todas contentes com a mãe babada a ver.
Depois do "cinema em casa" querem-nos vender a bela da "bica em casa". Já soube de uma companhia de teatro que vai ao domicílio, e com a Internet também já podemos trabalhar e pagar os impostos a partir de casa. Enfim, com um montão de euros e boa tecnologia podemos sobreviver emparedados. Mas eu gosto mesmo de sair para ver a paisagem, o povo, e respirar outros ares.
E agora acabo, com a vossa licença, que vou lá abaixo tomar a “bica” e ver como param as modas.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Ensinar versus Educar ?


“(…) Não é possível educar sem ao mesmo tempo ensinar: uma educação sem ensino é vazia e degenera com grande facilidade numa retórica emocional e moral. Mas podemos facilmente ensinar sem educar e podemos continuar a aprender até ao fim dos nossos dias sem que, por essa razão, nos tornemos mais educados. Tudo isto são detalhes que devem ser deixados à atenção dos especialistas e pedagogos.
O que nos diz respeito a todos e, consequentemente, não pode ser confiado à pedagogia enquanto ciência especializada, é a relação entre adultos e crianças em geral ou, em termos ainda mais gerais e exactos, a nossa relação com o facto da natalidade: o facto de que todos chegamos ao mundo pelo nascimento e que é pelo nascimento que este mundo constantemente se renova. A educação é assim o ponto em que se decide se se ama suficientemente o mundo para assumir responsabilidade por ele e, mais ainda, para o salvar da ruína que seria inevitável sem a renovação, sem a chegada dos novos e dos jovens. A educação é também o lugar em que se decide se se amam suficientemente as nossas crianças para não as expulsar do nosso mundo deixando-as entregues a si próprias, para não lhes retirar a possibilidade de realizar qualquer coisa de novo, qualquer coisa que não tínhamos previsto, para, ao invés, antecipadamente as preparar para a tarefa de renovação de um mundo comum”
Hannah Arendt, A Crise na Educação, in Quatro Textos Excêntricos, Relógio D’Água, págs 52 e 53.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

"Tanti auguri..."

"É papel do cristão ser ao mesmo tempo estrangeiro e presente ao seu tempo.
Estrangeiro às suas ilusões e presente a todos os males que derivam dessas ilusões."
Gustave Thibon

Tempo de Advento

Quanto ao Natal que se aproxima tão rapidamente, lamento profundamente que a mensagem subjacente ao nascimento do nosso Senhor, do Rei dos reis, Deus feito homem, tão equivocamente tenha vingado em dois mil anos de catequização.
É urgente proclamar que o Salvador afinal nasce gloriosamente pobre e indefeso numa manjedoura, numa nação ocupada e reprimida... Que a mais fantástica e bela história do mundo indica-nos inequivocamente um caminho de libertação e de felicidade, justamente na entrega, e não na conquista. No dar e não no receber. E que a redenção se alcança em tudo ao contrário do que ensurdecedoramente nos “vendem” por todo os recantos desta civilização decadente. E que é ao libertarmo-nos do nosso sôfrego e deprimente umbigo que podemos alguma vez realizarmo-nos como homens livres. E que o nosso coração frio e egoísta é a imagem das albergarias de Belém quando se fecharam a Maria e José em vésperas do Grande Acontecimento. E que se vivermos o Natal de Jesus, nem que seja por um dia, seremos indubitavelmente melhores pessoas e mais felizes.
Assim Deus me ajude a viver este Natal.

sábado, 8 de dezembro de 2007



"Ó noite tu não tinhas tido necessidade de ir pedir licença a Pilatos.
É por isso que eu te amo e te saúdo.
E entre todas eu te glorifico e entre todas tu me glorificas
e tu me dás honra e glória;
porque tu consegues algumas vezes aquilo que há de mais difícil no mundo,
a desistência do Homem
o abandono do Homem entre as minhas mãos.
Conheço bem o Homem. Fui eu que o fiz.
Ainda se lhe pode pedir muito.
(…) com a minha graça, eu sei apanhá-lo a jeito. Pode-se-lhe pedir muito coração, muita caridade, muito sacrifício.
(…) mas o que não se lhe pode pedir, é um pouco de esperança.
Um pouco de entrega, um pouco de abandono nas minhas mãos.
Um pouco de desistência. Está sempre tenso.
Ora tu, minha filha noite, consegues algumas vezes, obténs algumas vezes isso
do Homem rebelde.
Que consinta, esse tal senhor, que se renda um pouco a mim.
Que distenda um pouco os seus pobres membros cansados num leito de repouso.
Que distenda um pouco sobre um leito de repouso o seu coração dorido.
Que a sua cabeça sobretudo deixe de andar.
E ele julga que é do trabalho, que a cabeça lhe anda assim”.

(Pórtico do Mistério da Segunda Virtude, Charles Péguy)

A vós suspiramos gemendo e chorando neste vale de lágrimas.
Advogada nossa, Mãe imaculada, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei!

Imaculada Conceição

Quem és tu, Maria?
Quem és tu, Imaculada?
Eu não realizo bem o que significa ser criatura de Deus,
e ainda menos o que significa ser filho adoptivo de Deus.
E tu quem és, ó Imaculada?

Não é apenas ser criatura.
Não é apenas ser filho adoptivo.
Mas Mãe de Deus e, mais importante,
não Mãe adoptiva mas Mãe real.
Facto que não é nem presunção, nem uma probabilidade,
mas uma verdade absoluta, um dogma de fé.

Serás tu sempre Mãe de Deus?
O título Mãe de Deus nunca será alterado.
Deus chamar-te-á sempre: ‘Minha Mãe’.
Aquele que nos deu o quarto mandamento
honrar-te-á para sempre…

Quem és tu, Deus?
O Deus encarnado gostava que O chamassem ‘Filho do Homem’.
Mas os homens não o compreenderam.
E, ainda nos dias de hoje, mesmo se algumas almas o compreendem
elas estão longe de serem perfeitas.

Ó Virgem Santíssima!
Permite-me que eu te louve!
Permite que os outros me ultrapassem no louvor a ti.
E eu que os volte a ultrapassar, novamente.
E assim, nessa santa competição,
a tua glória crescerá:
sempre em maior profundidade,
sempre mais rapidamente,
sempre mais poderosamente,
segundo a vontade d’Aquele que te concedeu tal graça.

Foi por ti que Deus foi glorificado, mais do que por qualquer outro santo!
Foi por ti que criou o mundo!
Foi, também, por ti que Deus me criou!

Que poderei dizer diante de tal felicidade?
Ó Virgem Santíssima, aceita o meu louvor!

S. Maximiliano Maria Kolbe

A festa de Lisboa

Para quem se identifica com uma história sem interrupções, faz-lhe alguma confusão ter que emprestar a sua casa para convidar os amigos para um fim de semana em Lisboa!
Mas valeu a pena, explicámos à europa e ao mundo que quinhentos anos de experiência continuam a fazer a diferença! Num excesso patriótico vi o mapa cor de rosa desfilar à minha frente... e o convite a Mugabe vingou o ultimatum! Com os africanos nos entendemos, não precisamos de intermediários para nada.
Falta agora lancetar o abcesso provocado pelas ideologias serventuárias dos vários socialismos, estranhas a África, e que lançaram o continente na miséria e na indignidade. Aqui já não estou tão certo das actuais capacidades portuguesas para dar a volta ao texto, serão precisos homens de ambos os lados que assumam sem complexos a história comum, incluindo nela todas as vicissitudes, o bom e o mau de uma presença impossível de apagar e que à vista da festa de Lisboa, ninguém quer apagar. Ainda se fala muito de petróleo e dinheiro, mas sente-se que existem coisas mais importantes para falar. Há sinais de esperança e o dia de hoje é um desses sinais – celebra-se a Senhora da Conceição, Rainha e Padroeira de Portugal!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

História de algibeira (22)

Entre 15 de Outubro de 1910 e 19 de Junho de 1911, a bandeira nacional foi alvo de acérrima contenda entre os republicanos, a chamada Polémica das Bandeiras. Por forma a marcar a mudança de regime urgia mudar o mais importante símbolo nacional. Então estiveram em confronto a facção moderada representada por Guerra Junqueiro, que defendia a manutenção das cores azul e branca, e a facção radical liderada por Teófilo Braga, que defendia a adopção das cores “verde-rubra” da bandeira do PRP como nova bandeira nacional. O culminar da disputa é por todos nós conhecido, e hoje temos a bandeira que temos...


Ilustração gentilmente cedida por Carlos Bobone – Livraria Bizantina

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Porque Hoje é Dia de S. Nicolau


Nesta quadra natalícia, há já bastantes anos que cá em casa insistimos persistentemente na mesma Campanha.

Sempre que uma das crianças fala no Pai Natal, é prontamente corrigida; quando as professoras pedem para escrever cartas ao Pai Natal, lá se explica que estão enganadas...; no dia de hoje, o livro do "Verdadeiro Pai Natal" vai para a escola, para mostrar a todos os meninos a verdade; praticamente em cada dia há pretexto para falar no assunto, e voltar a insistir na mesma tecla: é o São Nicolau! o São Nicolau é o Pai Natal! (e muitas vezes se volta a contar a história do bondoso bispo do séc. IV, muito amigo das crianças, que colocava um saco com moedas de ouro na chaminé das casas dos mais necessitados...)

Mas a tarefa não é nada fácil. A "contra campanha" impõem-se à intenção dos pais.

E, com pena, tenho que reconhecer que nunca ouvi nenhum dos nossos filhos falar do S. Nicolau...

África

O rosto de um pobre é a voz. Que não tem eco, amplificadores, retorno. Os pobres não falam, não dizem nada, não sabem dizer. Não tem nada a dizer, nada a pedir. Quando se perde a história, a terra, os filhos e o leito, resta um punho de fel cravado. Que se esconde lá por dentro, bolsas de resina, onde as palavras não chegam, pedras de solidão. O Zaire já não existe, o norte da República do Congo é uma terra em disputa, mortos em fila. A Somália é uma miragem, perdida, guerra de clãs, a Eritreia e a Etiópia á espreita.Do Sudão, Darfur, nascem os corredores da doença, descem da Tanzânia à África do Sul. No Burundi, Ruanda, ainda o cheiro fétido da memória inunda o Uganda e os rios. A Costa do Marfim, a "bela" Abdijan, é uma esfinge apodrecida de cacau. O mal não é Mugabe, esse é o mal que os ingleses querem mostrar, mentira de filigrana que só os ricos da televisão podem ver. O mal, todo o mal, são os rolos de raiva à deriva, lodos de miséria, compressão pungente que esmaga o sorriso da mãe e da terra quando a luz se acende. Lembro. A grande dor é a voz. Quando o punho de fel está cravado. Quando a voz é só ferida.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Ser Presente para quem Precisa

Não sabe o que há-de oferecer este Natal à mãe, ao avô, ao tio, à prima, ao vizinho, ao amigo?
O que vai inventar desta vez não lhes faz a mínima das faltas?
Não tem paciência de perder horas em centros comerciais atulhados de gente, à procura de não sabe o quê?
Está farto de embrulhos e mais embrulhos que em todo o lado sufocam o Presépio e o Menino Jesus?

Então, está na hora de fazer a diferença.

Tenha a alegria de dar presentes. E dê a quem os dá a alegria de os partilhar com quem mais precisa!
Parece complicado? Não é. Nem precisa de sair de casa.
Veja aqui como.

Estar a 100%

Desde que acordamos até que nos deitamos temos 1001 coisas para fazer, objectivos a cumprir, metas a alcançar.
Umas vezes os dias não parecem mais que uma sucessão infidável, cheios de coisas iguais e afazeres mecânicos.
Outras vezes, vem a surpresa, a novidade, o inesperado e com ele até muitas vezes a tristeza e o sofrimento, ou a alegria e a emoção.
Seja como for, seja que dia for, o importante parece-me é estar a 100%.
Passo a explicar: estar nas coisas de corpo e alma, toda eu nas coisas e as coisas em mim. Mediante cada situação que tenho à minha frente, cada dificuldade ou facilidade, cada tarefa mais monótona ou entusiasmante, quer eu goste quer me custe, estar a 100%.
Estar a 100% implica dar-me e debruçar-me, ver tudo o que posso fazer, como devo agir, o que é o melhor, para aquela situação, aquela pessoa, aquela família, aquilo que tenho à frente.
Estar com sabedoria, com profissionalismo, com caridade, com humildade.
Estar com tempo, com disponibilidade, com atenção, com compaixão.
Estar a 100% e oferecer, porque cada minuto é um bem precioso da vida e há que santificá-lo o mais possível para se ser verdadeiramente feliz.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Dia da Independência

Peço imensa desculpa por vir quebrar o sossego da nação, por vir lembrar uma data que os livres pensadores se esforçam por esquecer, que a grande maioria da população desconhece porque era esse o objectivo, mas tenham paciência, eu demoro pouco, meia dúzia de linhas no máximo.
Quando no primeiro de Dezembro de 1640 decidimos dar fim à união ibérica, reino unido de Portugal e Espanha, união europeia a que aderimos voluntariamente, quando os quarenta fidalgos souberam interpretar os desígnios da Pátria, reconduzindo-a ao trilho Fundador, quando tudo isso aconteceu… estávamos mais ou menos na mesma encruzilhada em que hoje nos encontramos!
Ontem como hoje e a troco da independência política, também nos eram prometidos mundos e fundos! Também embarcámos nas guerras dos outros, em armadas invencíveis, também quebrámos velhas alianças, também trocámos princípios por coisas, e parece que ao princípio a coisa corria bem… e também não havia alternativa!...
A única diferença é que a antiga adesão foi votada em Cortes, e aprovada, com a honrosa excepção do procurador por Lisboa, de seu nome Febo Moniz!
Sessenta anos depois, porém, reconhecido o erro, veio o tal dia 1 de Dezembro de 1640!
O Dia da Independência.