quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Regicídio - Em abono da verdade

Foi ontem apresentado no Palácio da Independência ao Rossio o Dossier Regicídio – O Processo Desaparecido, um trabalho de dois anos de investigação coordenado por Mendo Castro henriques e com a colaboração de Maria João Medeiros, João Mendes Rosa, Jaime Regalado e Luiz Alberto Moniz Bandeira. O livro com 348 páginas e 400 ilustrações, resulta de dois anos de investigação que tratou cerca de 1.500 documentos, alguns inéditos, 400 artigos e opúsculos, 60 livros, de arquivos públicos e particulares.
Na falta do processo instaurado na época pelo juízo de instrução criminal e convenientemente sumido depois do cinco de Outubro algures no gabinete de Afonso Costa, a obra centra-se na documentação possível dos factos ocorridos na trágica data, obviamente sem que se possam assacar conclusões cabais.
Sobre o assunto, o Juiz Desembargador Rui Rangel a quem coube a apresentação da obra, salientou a fatídica tradição nacional da incapacidade instituição judicial portuguesa evitar a interferência dos poderes políticos. Como exemplo, o orador referiu alem do regicídio de 1908, o assassinato de Humberto Delgado e o caso Camarate.
Uma obra a não perder, em abono da verdade.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

"Qual é o segredo?"



«(…) Isodoro Alonso nasceu em Santa Gadea del Cid, uma aldeia de 500 habitantes perto de Burgos, no seio de uma família muito católica (…)
Aos 18 anos foi como missionário para a América do Sul, de onde só regressou 18 anos depois, para ingressar na Cartuxa. “Nunca tinha visto o mar, até entrar para o barco e passar 20 dias no mar”. Na Bolívia e no Peru foi professor “de tudo”. Foram 18 anos de aventuras inimagináveis, de lutas religiosas contra os convertidos protestantes, de evangelização, de discursos, de discussões públicas para trazer os jovens para a fé… E de repente… o silêncio. (…) “Toda a minha vida tive este pensamento, de entrar para a Cartuxa. Tinha de o realizar”
Mas compreende por que razões já não há vocações. Uma vez, já depois de muitos anos de Cartuxa, Isidoro foi a um encontro internacional de priores Cartuxos em França. Na viagem pararam no Corte Inglês, para almoçar. Foi um assombro. O menu era uma confusão de nomes incompreensíveis. “Eu não sabia o que escolher. ‘Escolham por mim’, disse. ‘Deve ser tudo bom’” Comeram lavagante. “Uma maravilha! Depois as mesas, a decoração, tudo bonito. As casas de banho limpíssimas… Uma maravilha! O carro, um Mercedes, uma maravilha!”
Após uns dias de maravilhamento ininterrupto, o padre compreendeu por que ninguém quer ir para um convento.”Vive melhor hoje um pobre do que vivia um rei há 100 anos. Por isso as pessoas andam distraídas do que é importante, de Deus. Mas, depois, toda essa abundância material leva a um imenso vazio. E solidão. Sinto que as pessoas em Lisboa vivem mais sós do que os monges aqui, na Cartuxa” (…)»

Do livro “O Segredo da Cartuxa”, Pedra da Lua, citando o Frei Isidoro Alonso, Prior da Cartuxa Scala Coeli, Évora.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Sarkozy

Na sexta-feira passada, ao serão, alguns de nós, que escrevemos neste blogue, juntámo-nos para partilharmos algumas leituras de que gostamos muito. Lemos um texto lindíssimo da Raissa Maritain, da sua conversão ao cristianismo. Com uma escrita límpida, serena, com uma tal evidência que supera qualquer perspectiva céptica da existência. É um texto de uma iluminação absoluta, quase inalcansável nas suas premissas, só tangível numa atitude de acolhimento e de aceitação perante a vida. Mergulhámos em Péguy, " O pórtico do Mistério da segunda virtude", um dos textos mais assombrosos que os meus olhos alguma vez tocaram. Um livro para amar, chorar, o sabor do "gosto do pão". E no fim da sessão, noite dentro, a grande surpresa, um texto de Sarkozy. Um texto imenso, magnético, um relâmpago, flecha de cristal "mais un homme qui croit, c´est un homme qui espère". Foi pronunciado em Roma, penso que no final do ano passado, em S. João Latrão" Les racines de la France sont essentiell chrétiennes. Et la France a apporté au rayonnement du christianisme une contribution exceptionnelle". São afirmações surpreendentes em catadupa " le fait spirituel, c´est la tendance naturelle de tous les hommes à rechercher une transcendance" que não são pertença do espaço público político dominante. Este texto é um desafio, uma interrogação, uma folha de aço a brilhar. É uma urgência lê-lo, uma urgência meditá-lo. É uma estrela que caíu como no filme de Capra. Que rasgou a noite e gerou a inquietude.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

História de algibeira (25)

Na imagem acima, o Benz da Casa Real, de 1907. Este automóvel foi utilizado pelo Rei D. Carlos e conduzido pelo motorista Luís Francisco, o "Ponta da Unha". O célebre Benz ainda serviu o Rei D. Manuel II. Depois da proclamação da República, com o Presidente Manuel de Arriaga "ainda subia envolto em densa fumarada a Calçada da Ajuda com força e potência do seu motor mas já sem o brilho e o aparato dos bons velhos tempos".

In Apontamentos Memoriais de João Pinto de Carvalho.

Notas e imagem daqui

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Rui Ramos, hoje no Público

Obrigado aos “sábios” de Roma

«Há dias que quase toda a gente os anda a condenar. Parece-me que chegou a altura de lhes agradecer. Falo dos “sábios” que a semana passada, guiados por um velho estalinista e apoiados pela polícia de choque da “antiglobalização”, dissuadiram o Papa de visitar a Universidade La Sapienza de Roma. No fim, deram-nos a todos um pretexto para rever matéria sobre teoria e história da tolerância. Não era esse o objectivo? Foi esse o efeito. E permitam-me que também aproveite a boleia. Quem sabe? Talvez os “sábios” tenham aprendido alguma coisa e não nos proporcionem tão cedo outra oportunidade.

Parece que há gente, na Europa, a quem as religiões voltaram a meter medo. Depois do 11 de Setembro, a religião tomou o lugar que o nacionalismo tinha no tempo da guerra da Jugoslávia. [...] Enganaram-se de século? É por hábito? Ou dá-lhes mais jeito mostrar contra o Papa a coragem que lhes falta perante os jihadistas? Pois: morrer pelas ideias, mas de morte lenta. Sim, na Europa, até ao século XIX, as igrejas de Estado resistiram ao pluralismo e à sua expressão. Mas a intolerância e a perseguição que milhões de europeus sofreram nos últimos duzentos anos não se ficaram a dever às religiões tradicionais, mas às modernas ideologias laicas. Os deuses dos que não acreditam em Deus foram sempre os mais sedentos. Em nome do Ente Supremo, da ciência ou do racismo pagão, republicanos jacobinos, marxistas-leninistas e fascistas “moralizaram”, proibiram e abasteceram largamente cemitérios e valas comuns. Os que prezam a liberdade de “errar” (e não apenas a de pensar “correctamente”) têm uma dívida para com quem criticou os velhos dogmas, como Voltaire, mas também para com quem resistiu aos novos, como João Paulo II. Neste mundo, a liberdade de pensamento não tem pais exclusivos. O fundamentalismo laicista trata toda a convicção religiosa como o vestígio absurdo de uma idade arcaica, intolerável fora do espaço privado. Mas a fé não é fácil, não é uma opção primitiva nem simplesmente um preconceito. Ou antes: pode ser tudo isso, mas pode também corresponder à mais forte exigência intelectual e à disponibilidade para enfrentar profundamente as mais difíceis de todas as dúvidas. Exactamente, aliás, como o ateísmo: há quem o viva como um dogma beato, muito contente consigo próprio, ou quem o tenha adoptado como a forma mais conveniente de não pensar. Muitos são hoje ateus pelas mesmas razões por que teriam sido beatos no século XVII. E se mandam calar Bento XVI é porque, há quatro séculos, teriam mandado calar Galileu.

[...] Numa cultura intoxicada pela hubris da ciência e das ideologias modernas, certas religiões conservaram, melhor do que outros sistemas, a consciência e o escrúpulo dos limites. O mesmo se poderia dizer da questão da verdade, que a ciência pós-moderna negou, sem se importar de reduzir o debate intelectual ao choque animalesco de subjectividades.

Não, não é preciso fé para perceber que das religiões reveladas (e doutras tradições de iniciação espiritual) depende largamente a infra-estrutura de convicções e sentimentos que sustenta a nossa vida. O seu silenciamento no espaço público não seria um ganho, mas uma perda. No dia em que não pudermos ouvir Bento XVI, seremos mais obscurantistas e menos livres. Obrigado aos “sábios” de Roma por nos terem dado ocasião para lembrar isto.»

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

O povo

Ontem foi Madrid, hoje foi Roma. Eles estão ali no lugar onde sempre estiveram. Antes foram os pais, os avós, a família, a terra e a história. Não é gente nova, não inventam nada, têm apenas o dom de estar no lugar da pertença e da sabedoria. E reconhecer que a atitude perante a existência, do âmago da vida, é participar no coração dos actos que são os nossos. Existem coisas que são nossas, que são de nós: a terra onde nascemos, os pais que amamos, a família onde crescemos, os filhos que vimos nascer, as orações que aprendemos, o mar onde mergulhámos, a memória onde atámos o nosso ser. Estas coisas são nossas, de nós todos, de toda a gente. São o sinal daquilo que fazemos, os elementos dos quais somos parte. Quando os vemos em Madrid ou na praça de S. Pedro sabemos que o nosso lugar é ali. Que fazemos parte desta família, que a nossa casa é esta. Que este é o nosso sangue, que o sangue dos nossos filhos escorre nessas veias. Que ali se constrói o mundo pelo qual trabalhamos e queremos ter. A grande luta do nosso tempo é estar ali. Do lugar dos que procuram, da busca. O mais difícil não é o caminho, o caminhar para a frente, é o caminhar de frente. Com a face desvelada e o coração dócil. Lembro-me de uma canção que ouvia aos meus filhos quando eram pequeninos: " Come sei bella Italia cosí senza giorni di pioggia".

As abelhas castelhanas

O apicultor estava desolado, as suas abelhas estão a desaparecer, morrem de fome e cansaço, vítimas de um poderoso enxame espanhol, cujas obreiras invadem diáriamente a fronteira, comem o pólen lusitano e dizimam as nossas compatriotas! Verdade que a abelha nacional não estava preparada para tal concorrência e quando lhe falaram de europa não percebeu que isso soava ao toque da antiga trombeta castelhana! E assim, distraída, pensando apenas no mel dos subsídios, esquecendo que de Espanha... ‘nem bom vento nem bom casamento’, a pobre abelhinha lá vai definhando à espera de um Condestável, que tarda!
Mas se as colmeias portuguesas estão em crise, mais a sul, a situação é diferente. Em pleno Alentejo, as terras abandonadas pelas ocupações de Abril e pelas experiências colectivas soviéticas, estão agora recobertas de extensos e viçosos olivais, propriedade castelhana, que prometem produzir o melhor azeite espanhol da europa!
E nós… ‘vamos cantando e rindo, levados, levados, sim...’

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Memórias urbanas

Sempre que necessito deslocar-me dentro de Lisboa, o meu transporte favorito, se por lá passar, é sem dúvida o Metro. Mas quando tal não é possível, o Táxi é uma solução bem eficiente, em certos casos até económica, se considerarmos os preços do estacionamento. Se com alguma sorte o motorista não for excessivamente intrusivo, esta alternativa torna-se até quase perfeita. Mais, quando algures na cidade procuro um Táxi, e se puder escolher, garanto-vos que escolho um Táxi "verde e preto", que é a cor verdadeira dos táxis. Assim como quando eu era pequeno considerava que o português era "a" língua “verdadeira” e aquelas incompreensíveis verborreias dos filmes de TV umas exóticas e deficientes tentativas de comunicação, os táxis beges são para mim uma espécie de degeneração estrangeirada dos “verdadeiros” táxis. É que, no meu tempo de criança, um Táxi era simplesmente um Mercedes 180 "verde e preto", de bancos corridos em cabedal e com uma fascinante manete de mudanças saída do volante cor de marfim. Quanto muito nessa altura cheguei a admitir a modernice dos “Datsuns”, umas revolucionárias banheiras com rodas que apareceram nos anos 70… mas sempre na condição alegre e tradicional do “verde e preto”.
Depois, nos anos 90, umas luminárias cá do burgo (nunca entendi bem a verdadeira história) decidiram que se pintassem todos os táxis de "cor-de-burro-quando-foge”. Hoje, é com uma confortável satisfação que vejo crescer o número de táxis “verdadeiros” na minha cidade. Coisas minhas, coisas cá deste intrépido e incurável conservador.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Ficção ou talvez não!

As agências internacionais noticiam com espanto que Portugal está a viver um novo ‘prec’, um novíssimo ‘gonçalvismo’! Com efeito, tudo leva a crer que a banca está a ser outra vez nacionalizada, mas desta vez com uma pequena diferença em relação aos longínquos acontecimentos de Março de 1975 – hoje são os próprios banqueiros e os grandes accionistas que querem ser nacionalizados! Pelo contrário, os pequenos accionistas, as pequenas poupanças, o povo… unido à volta de um quixotesco defensor da iniciativa privada, tenta desesperadamente evitar a consumação do acto… mas em vão!
Há quem se interrogue sobre o estranho comportamento dos empreendedores lusitanos, que afinal não querem ser livres, nem empreender, mas tão só engordar ao colo do Estado!
E como os bons exemplos frutificam, não existe jovem português que não repita: quando for grande quero ser empresário… no Estado!
Toca o hino: “Heróis do mar…”!

sábado, 12 de janeiro de 2008

A quem possa interessar eis aqui o programa do Centenário do Regicídio. De resto, esta e muito mais informação pode ser consultada em http://www.regicidio.org/. Uma nação sem memória é uma nação condenada.


31 Janeiro 2008 - 21:30
Auditório Cardeal Medeiros, Biblioteca João Paulo II - Universidade Católica Portuguesa-Lisboa, Conferência "Dom Carlos I, Um Rei Constitucional", Orador principal - Rui Ramos.
31 Janeiro 2008:
Após a conferência no mesmo local - Concerto pelo Grupo de Música de Camara da Banda do Exército.
1 Fevereiro 2008 - 17:00 horas:
Concentração no Terreiro do Paço, junto à placa evocativa do Regicídio.
1 Fevereiro 2008 - 19:00:
Basílica de São Vicente de Fora, em Lisboa, Requiem Soleníssimo "In Memoriam" do Centenário do Regicídio presididas por Sua Eminência O Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa. Deposição de coroas de flores e homenagem solene aos túmulos de Sua Majestade O Rei Dom Carlos I e de Sua Alteza Real O Príncipe Herdeiro, Dom Luís Filipe.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

ASSIM NÃO!!

Como se tudo o que se vem passando nos últimos tempos em Portugal não fosse já demasiado mau, só numa semana, por sinal a primeira completa após o início do novo ano, temos que enfrentar tudo isto por parte daqueles que estão à frente do destino do país:
1- pagamento extraordinário das pensões:
primeiro em prestações (no caso das pensões inferiores a 611,12 euros seria na ordem dos 68 cêntimos por mês…).
Depois, já não é em prestações, mas o Governo diz que mantém sobre a matéria a mesma posição;
2- Tratado de Lisboa:
ratificado no Parlamento e não em referendo, mas o Primeiro Ministro diz que não há quebra de qualquer compromisso anteriormente assumido, porque este é o Tratado de Lisboa e não o Tratado Constitucional;
3- venda do espaço do antigo Convento de Brancanes e no qual anteriormente funcionou o Estabelecimento Prisional Regional de Setúbal, a numa empresa da qual será, pelo menos, advogado António Lamego, antigo sócio do Ministro da Justiça Alberto Costa na sociedade de advogados que o mesmo integrou. Tal empresa nem sequer estaria constituída aquando da compra (porque não teriam recorrido à Empresa na Hora?).
A venda, segundo o Público de hoje, terá sido efectuada por 3,4 milhões de euros, menos 892 mil euros do que o Ministério da Justiça pagou pelo imóvel em 1998, mas o Ministério da Justiça esclareceu que nada tem a ver com o negócio (???);
4- decisão preliminar de que novo aeroporto será em Alcochete e não na Ota, mas o Primeiro Ministro diz não há qualquer contradição com o que anteriormente foi declarado pelo Ministro Mário Lino, porque agora há um novo estudo do LNEC (e tal estudo nem sequer foi realizado por pressão da sociedade civil ???).
E se o estudo de impacto ambiental for desfavorável a esta decisão preliminar?
E porque não Portela + 1?
Para onde vamos?
Tudo isto interfere directamente com a nossa vida e não nos pode deixar indiferentes, embora me preocupe a apatia generalizada que parece reinar.
Numa coisa estou de acordo com o Primeiro Ministro: “O país precisa de andar para a frente”- Só que Assim Não!

Este senhor ainda é nosso ministro?



Parece que sim. No governo ninguém deve ter ouvido esta anedota.

Péguy

A bomba rebentou. Mudou as formas, a memória, roubou a ignorância e o medo. Em 1912, Péguy roubou a carne, a alma e a esperança e a infãncia e a cruz. " O pórtico do Mistério da Segunda virtude" rebentou tudo por dentro, as mãos e o coração, estilhaços de glória. Ninguém escreve como Péguy. " As crianças quando choram são mais felizes do que nós quando rimos / E quando estão doentes são mais infelizes que tudo neste mundo / E mais comovedoras / porque nós sentimos e eles sentem bem que é já / uma diminuição da sua infãncia. / É o primeiro sinal do seu envelhecimento. / A caminho da morte. / Temporal." Este livro é o princípio, o começo das palavras e dos filhos. " Tudo o que começa tem uma virtude que não mais se encontrará / (...) / Uma nascença que nunca mais se irá encontrar / o primeiro dia é o mais bonito / o primeiro dia é talvez o único dia bonito / e o baptismo é o sacramento do primeiro dia / e o baptismo é tudo o que há de belo e grande". A escola no momento de dizer a verdade tem medo, a escola mente, está a mentir. O nosso tempo, o tempo moderno, do ser que somos hoje, não é a metafísica lodosa da Tabacaria, dos chocolates rimados de melancolia, nem a viagem centrífuga de Bloom na Dublin de Joyce. Isto são migalhas. Rolos de pregas amargas. A modernidade começou antes, "há no que começa uma fonte, uma raça que não volta atrás", os filhos crispados de Zaratustra sabem disso , mas escondem a relíquia amarga. A linguagem eliptíca, repetitiva, as palavras soltas á beira do abismo, a gramática feita esgar, o sangue, a carne e a alma do verbo estão aqui, inteiras, redondas, acabadas. Se a modernidade actualiza o nosso ser, o nosso corpo, se as palavras afirmam a memória, nunca a linguagem se fundiu tanto " que vem a ser ter este corpo; ter esta ligação com o corpo / ter essa ligação com a terra, com esta terra, ser esta terra, o limo e a poeira, a cinza e a lama da terra". Nunca na literatura deste tempo o corpo de Jesus foi tão fundo, foi tanto do ser, uma evidência. Péguy é o escritor que não esquece o lodo da terra, os filhos, o Pai, o naco de pão e a esperança. " O Pórtico do Mistério da Segunda Virtude" é um dos mais belos livros que habita o coração. A maior descoberta depois da colheita.

Pazes (provisórias) com VPV

O Governo socialista de José Luis Zapatero resolveu suprimir o ensino religioso, facilitar o divórcio e permitir o casamento de homossexuais. O objectivo é o "reequilíbrio" da Espanha, que, segundo parece, trinta anos de democracia deixaram excessivamente católica e "franquista". Dentro do seu papel e do seu direito, o arcebispo de Madrid e o arcebispo de Valência convocaram uma pequena manifestação de protesto (160.000 pessoas) contra a cultura do laicismo" e contra leis que alegadamente contrariam o "matrimónio indissolúvel" e a "transmissão da vida". O Governo de Zapatero acusou logo aIgreja de se intrometer na campanha eleitoral (a 9 de Março há eleições), de fazer um comício como um vulgar partido (no caso, o PP) e de "ignorar" e não respeitar" os princípios da liberdade. Em Espanha, e na "Europa" inteira, ninguém se lembraria de criticar ou de inibir manifestações contra o ensino religioso, pela facilitação do divórcioou pelo casamento de homossexuais. Como ninguém se lembra de criticar ou de inibir manifestações por formas de autonomia nacional que roçam, ou até entram, pelo separatismo. E obviamente ninguém pede que se ponha fim a uma certa propaganda islâmica ou, se preferirem, de ensino corânico, que prega a perversidade essencial do Ocidente e tenta promover a sua expeditiva eliminação. Tudo isto a "Europa" acha legítimo; e sobre tudo estende a sua simpatia. Em contrapartida, cai o céu se qualquer católico, padre ou Papa, se atrever a afirmar activamente o que pensa. A "Infame" deve estar calada ou, pelo menos, ser discreta. O fanatismo, o da Espanha (de Zapatero) e o da "Europa", não é novo; e o fanatismo anticatólico também não. É só estranho que este se funde na "diversidade" e o aceitem em nome da "tolerância". Uma "diversidade" imposta e limitada pela força do Estado, que não levanta a mais leve dúvida ou o mais leve incómodo. E uma "tolerância" reservada ou recusada pela ortodoxia oficial, que se tornou o argumento supremo da intolerância. O mundo moderno e a opinião que o sustenta autorizam o que autorizam e proíbem, muito democraticamente, o resto. As democracias, como se sabe, produzem com facilidade aberrações destas. Quem não gosta que se arranje ou se afaste. O Papa Ratzinger previu para a Igreja uma era de quase clandestinidade. Provavelmente, não se enganou.

Vasco Pulido Valente
05.01.2008
Notas
1º Outras fontes falam em mais de um milhão de manifestantes... O Sapateiro não se incomodaria tanto com tão poucos;
2º "Infame" é um epíteto lançado por Voltaire à Mãe da Europa.

A Ética da Responsabilidade

do nosso Primeiro Ministro:

Sobre o Tratado

"É essencial"
- Out 2004

"Desta vez tem de haver" - Dez 2004

"Vai haver" - Fev 2005

"O Governo defende que a aprovação do Tratado deva ser precedidade de referendo popular" - Mar 2005

"Mantenho" (Mantém o objectivo de referendar o Tratado qualquer seja o resultado deste processo institucional?) - Dez 2006

Jan 2008 - "O Tratado de Lisboa será ratificado na Assembleia da República."

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

História de algibeira (24)

O Instituto de Socorros a Náufragos foi fundado e presidido por Sua Majestade a Rainha Dona Amélia por Carta de Lei de 21 de Abril de 1892. Ficou célebre a intervenção da Rainha num emocionante e bem sucedido salvamento de um pescador na praia do peixe em Cascais.


Foto daqui

domingo, 6 de janeiro de 2008

Dia de Reis

Confesso que estava com alguma dificuldade em reiniciar a escrita no novo ano, porém, o significado deste dia, e um bom incentivo vindo de fora, resolveram o problema. Não resisto a publicar o incentivo, que rezava assim: “ Caro amigo monárquico, urge que hoje, dia de Reis, compareça no Presépio que é cada Eucaristia, a prestar as honrarias ao Rei, inclinando-se em Amor sobre Aquele que por nós Se inclinou”.
Belíssima mensagem, difícil de resistir, e que sobreleva todas aquelas questões que fazem a agenda política de 2008. Seja a ‘pro-actividade laicista’, na robótica expressão de Menezes, para significar a nova vaga anti-clerical Socretina, seja a viagem napoleónica de Sarkozy ao Egipto (ou será viagem nupcial de Marco António e Cleópatra!), sejam os partidos familiares e democráticos muito em voga (leia-se: a corte republicana e os seus inevitáveis cesarismos), seja ainda o furor com que nos comprazemos a verificar a eficácia das leis, num país onde não se cumprem, onde a justiça não funciona, e quando resolve funcionar, nunca se esquece dos vários pesos e medidas!
Como vêem, não valeu a pena desviarmo-nos da mensagem inicial, portanto, com bolo-rei ou sem ele, com os bagos de romã ou sem eles, é dia de celebrar o Rei dos reis, com os presentes disponíveis, símbolos da Realeza Maior, bálsamos do corpo e da alma.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Pouco convincente…

É da minha vista ou a entrada em 2008 foi pouco convincente! Pareceu-me notar um certo desconforto, alguma artificialidade nos sorrisos, até o champagne estava mais mortiço!... Claro que o fogo de vista esteve em grande! Também não foi por acaso que os ‘tarecos da moda’ se lembraram de fazer, no canal público, uma espécie de reveillón de há vinte anos atrás! É certo que pouparam nos cachets mas a ideia base é a mesma – não existe muita esperança no novo ano, e o revivalismo é como o algodão, não engana, quer dizer que já demos a volta ao conta quilómetros… e nada! Isto não anda para a frente!
Mas já agora aprofundemos um pouco o assunto, até podemos continuar com os ‘gatos’, rapazinhos inteligentes e que estão bem para o público que os aplaude freneticamente. Pela amostra junta arriscamos fazer uma radiografia social daqueles anos oitenta, do chamado cavaquismo, época em que os ‘revolucionários de modo vário’ já se tinham encaixado na função pública, para descobrir enfim as alegrias do capitalismo… de estado. Os descendentes, cresceram na deseducação do gastar sem produzir nem poupar, e como acontece sempre que isso acontece, a desregra é a regra, o consumo de álcool e drogas explodiu, explodiu a 24 de Julho, e explodiram as docas… sem navios! Os tais descendentes estudavam pouco, saíam a desoras, às horas a que os otários se levantavam para ir trabalhar! Mas o primeiro-ministro fazia maravilhas com os fundos europeus que todos os dias desembarcavam, aos milhões, no orçamento de estado! Havia para todos, ou quase todos, e por isso era empochar e gastar! Os gostos musicais da pequenada foram servidos e revistos no Pavilhão Atlântico… desfilaram ‘já fumega’, ‘trabalhadores do comércio’, ‘rádio Macau’… a firmeza e a força de ânimo eram as notas dominantes… por exemplo… ‘já não sei se hei-de fugir… ou morder o anzol… não existe nada de novo debaixo do sol’…
Esta geração tem agora perto de quarenta anos e muitos deles, os que escaparam ao deserto das dependências, são os actuais dirigentes do país.
Sem mais subscrevo-me atenciosamente, desejando a todos um Bom Ano.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Moda y personalidad

“La distinción es aquello que situá a la persona humana por encima de la vulgariad y dentro del señorío”. Ricardo Yepes Hasta hace unos años la periodista Leticia Ortiz era una presentadora más, que cumplía cada tarde su labor de dar las noticias, en una de las cadenas de la TV española. Ahora, esta elegante y sencilla mujer de 33 años, será la futura Reina de España ya que se ha casado con el Príncipe Felipe y han sido padres de una niña. Ante esta elección, muchas personas se formularán preguntas tales como: ¿Qué vio el Príncipe en ella, para tomar tan importante decisión?, ¿sería su belleza?, ¿su profesionalismo?, ¿o tal vez el aplomo y sinceridad en la mirada?, ¿qué hizo que un Príncipe viera en esta profesional, hasta cierto punto, una mujer común y corriente, a una princesa?Yo pienso, respondiendo un poco a estas preguntas, que la primera impresión contó. Y es que, en cuestión de impresiones, no existen segundas oportunidades. Ella misma dice que “la imagen es lo primero que se ve de nosotros y, por lo tanto, hay que cuidarla”. Todo esto implica seguir la moda, cuidar el cabello, tener buen gusto en el vestir. Es muy importante cuidar el aspecto personal y respetar con ello nuestras opiniones. Siguiendo con la periodista que se hizo famosa al convertirse en princesa, para ella “la personalidad se transmite a través de lo agradable de la mirada, del tono de voz, del aplomo al expresarse”. Ambos factores que menciona, según mi parecer, definen a una mujer, a una persona. Por que mientras la moda es ese accesorio con el que se saca máximo provecho a las formas del cuerpo, la personalidad revela la interioridad del alma; la moda da a conocer un estatus y estilo de vida; la personalidad, la madurez que se ha logrado y lo característico del yo. La moda viste a la personalidad, a lo que hay en el fondo. Si ese fondo es rico en valores, en vida interior, en pensamiento constructivo, el ropaje servirá para embellecer lo que hay dentro, lo que no puede verse, sino sólo en las actitudes y en lo denso de la mirada. Sheila Morataya