terça-feira, 29 de janeiro de 2008

"Qual é o segredo?"



«(…) Isodoro Alonso nasceu em Santa Gadea del Cid, uma aldeia de 500 habitantes perto de Burgos, no seio de uma família muito católica (…)
Aos 18 anos foi como missionário para a América do Sul, de onde só regressou 18 anos depois, para ingressar na Cartuxa. “Nunca tinha visto o mar, até entrar para o barco e passar 20 dias no mar”. Na Bolívia e no Peru foi professor “de tudo”. Foram 18 anos de aventuras inimagináveis, de lutas religiosas contra os convertidos protestantes, de evangelização, de discursos, de discussões públicas para trazer os jovens para a fé… E de repente… o silêncio. (…) “Toda a minha vida tive este pensamento, de entrar para a Cartuxa. Tinha de o realizar”
Mas compreende por que razões já não há vocações. Uma vez, já depois de muitos anos de Cartuxa, Isidoro foi a um encontro internacional de priores Cartuxos em França. Na viagem pararam no Corte Inglês, para almoçar. Foi um assombro. O menu era uma confusão de nomes incompreensíveis. “Eu não sabia o que escolher. ‘Escolham por mim’, disse. ‘Deve ser tudo bom’” Comeram lavagante. “Uma maravilha! Depois as mesas, a decoração, tudo bonito. As casas de banho limpíssimas… Uma maravilha! O carro, um Mercedes, uma maravilha!”
Após uns dias de maravilhamento ininterrupto, o padre compreendeu por que ninguém quer ir para um convento.”Vive melhor hoje um pobre do que vivia um rei há 100 anos. Por isso as pessoas andam distraídas do que é importante, de Deus. Mas, depois, toda essa abundância material leva a um imenso vazio. E solidão. Sinto que as pessoas em Lisboa vivem mais sós do que os monges aqui, na Cartuxa” (…)»

Do livro “O Segredo da Cartuxa”, Pedra da Lua, citando o Frei Isidoro Alonso, Prior da Cartuxa Scala Coeli, Évora.

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