sexta-feira, 8 de agosto de 2008

A Jornada Mundial da Juventude em Sydney deixa marcas

A imprensa australiana continua impressionada com o êxito da Jornada Mundial da Juventude em Syney, e com as marcas que deixou a religiosidade alegre dos jovens que participaram.

Assinado por Aceprensa Data: 6 Agosto 2008
“Como diria o Antigo Testamento, foi uma semana de Revelações”, escreve The Daily Telegraph (21-07-08), de Sydney. O jornal chama a atenção para “a extraordinária eclosão de boa vontade que vimos nestes dias”, e que afectou tanto os residentes de Sydney como os visitantes.
“Quando peregrinos de todo o mundo chegaram ao estado, os lares e os corações abriram-se à experiência de acolher jovens das mais diferentes culturas e ficar a conhecer os seus costumes. Por sua parte, eles nunca deixaram de mostrar a sua alegria, a sua generosidade e o seu optimismo, tendo presente que também os que partilham a sua fé estavam incluídos nestas celebrações abertas a toda a Austrália”.
Ao falar do ambiente destes dias, o diário assinala que “a ameaça de protestos contra a Jornada nunca se concretizou, a forte presença policial foi desnecessária e por sua vez a politiquice ficou à margem e o estado assumiu o seu papel de ser o anfitrião do mundo.”
Agora que o Papa regressou a Roma, “esperamos que deixe atrás de si um pouco dessa boa vontade que se espalhou durante a sua visita. Esse resultado responderia a todas as nossas orações.”
Um contraste chamativo
A alegria e a amabilidade de milhares de jovens católicos “acabaram por derreter o coração cínico de Sydney”, escreve Miranda Devine no The Sydney Morning Herald (24.07.08), que dá exemplos como os dos condutores dos autocarros, que, apesar de terem acabado o seu turno, recolhiam jovens que tinham ficado sós sem transporte, ou das famílias que espontaneamente ofereciam os chuveiros das suas casas aos visitantes acampados nas escolas da vizinhança.
“Católicos ou não, a grande maioria das pessoas quer encontrar amor e bondade nas suas vidas, e o contraste ente as caras radiantes dos peregrinos e as máscaras crispadas dos difamadores que lançavam preservativos dava nas vistas. Nem tudo é o que parece”.
Para muitos habitantes de Sydney, foi uma descoberta esta nova geração de jovens. “Não era a lendária juventude de bebedeiras, drogas e doenças sexualmente transmissíveis, mas sim um grupo de pessoas sociáveis, maduras e que abraçavam sem complexos o renascer de uma fé ortodoxa no século XXI”.
Num país como a Austrália, que passa por ser um dos mais secularizados, a experiência da Jornada da Juventude demonstrou que a religião interessa. Tony Abbott, que escreve no The Australian (22-7-08), destaca-o assim:
“Aos australianos não nos surpreende que dezenas de milhares de pessoas viagem por meio mundo para ir aos Jogos Olimpícos, porque sempre temos olhado para o desporto com devoção religiosa. Mas rara vez nos entusiasmamos com a religião. Por isso a presença de mais de 100.000 jovens vindos para a Jornada Mundial da Juventude foi um choque cultural. Tinham-nos dito que a religião era para velhos, não para jovens e estudantes universitários”.
A religião interessa
“Nunca até agora uma cidade australiana foi testemunha de tal manifestação de exuberância popular religiosa”, escreve Abbott. “O êxito extraordinário da Jornada Mundial da Juventude surpreendeu muitos (…) Inevitavelmente haverá a tentação de considerar a JMJ como produto de um excesso de turistas religiosos, uma fugaz interrupção do secularismo habitual. Mas creio que seria um erro. Pela primeira vez desde que os australianos de origem irlandesa perderam o sentimento de pessoas desamparadas, a JMJ considerou boa sua paixão de ser católico.” “Por uns dias, os católicos saíram do gueto mental em que muitos se tinham encerrado e é improvável que tornem a estar na defensiva e sem oferecer resistência”.
Abbott pensa que isto poderia ajudar os pragmáticos australianos a “compreender que a religião pode ser importante para seu próprio benefício”; e se “as boas notícias sobre a religião podem monopolizar as primeiras páginas durante uma semana, talvez os meios de comunicação pudessem reconsiderar a quase total supressão do jornalista de informação religiosa”. Ao menos por uma semana, “os australianos parecem ter aceite que o interesse por Deus está ‘gravado nas nossas almas’, como disse Bento XVI. Por uma semana, a religião foi associada ao puxar pelo melhor e não pelo pior das pessoas”.
O articulista assinala que desta vez a imprensa “pôs o foco da atenção nos ensinamentos da Igreja, não nas suas falhas. E não há dúvida que o Papa aproveitou brilhantemente esta oportunidade. As suas intervenções não se centraram em denunciar o pecado, mas sim em celebrar a vida”. A JMJ “foi também o triunfo do cardeal Pell, ainda que “não seja dos que procuram a popularidade destacando o trabalho da Igreja com os pobres e minimizando a necessidade do esforço pessoal e da importância dos sacramentos. Pell é um homem cortês, de oração, um sacerdote com zelo pastoral, mas também com o instinto do chefe guerreiro de que a Igreja necessita numa cultura profundamente secularizada.

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