De sentir e do sentido
Têm sido muitas as páginas dedicadas ao tema ao longo da história humana: o sentido da vida.
A dificuldade em surpreendermos não apenas a natureza, mas também o sentido deste sentido, tem afectado e destruído muitos dos nossos.
É curioso, no entanto, que é frequente verificarmos que a aporia do sentido da vida se reveste de maior dor e sofrimento nos casos em que ocorre uma auto-conversão que, neste caso, funciona como uma redução do que há à estreita esfera do eu. O ensimesmamento que daqui resulta é mais frequente revelar-se com factos de abismo e de perdição do que de auto-revelação.
O segredo do regresso ao coração de si, enquanto movimento consequente de descoberta, é sempre uma demanda, não de si, mas de uma alteridade, o mais Intimo que o meu íntimo, no dizer agostiniano. Assim, a demanda do sentido do existir exige sempre uma relação que é sempre mais exigente, quando assumida radicalmente, do que estaríamos dispostos a conceder-lhe se nos eximíssemos a experienciá-la.
O que se segue diz melhor do que eu o que disse. Foi vivido:
A dificuldade em surpreendermos não apenas a natureza, mas também o sentido deste sentido, tem afectado e destruído muitos dos nossos.
É curioso, no entanto, que é frequente verificarmos que a aporia do sentido da vida se reveste de maior dor e sofrimento nos casos em que ocorre uma auto-conversão que, neste caso, funciona como uma redução do que há à estreita esfera do eu. O ensimesmamento que daqui resulta é mais frequente revelar-se com factos de abismo e de perdição do que de auto-revelação.
O segredo do regresso ao coração de si, enquanto movimento consequente de descoberta, é sempre uma demanda, não de si, mas de uma alteridade, o mais Intimo que o meu íntimo, no dizer agostiniano. Assim, a demanda do sentido do existir exige sempre uma relação que é sempre mais exigente, quando assumida radicalmente, do que estaríamos dispostos a conceder-lhe se nos eximíssemos a experienciá-la.
O que se segue diz melhor do que eu o que disse. Foi vivido:
“…Essa é uma certeza que tenho dentro de mim, que não é perturbada pela nova certeza: que querem o nosso extermínio. Também isso eu aceito. Sei-o agora. Não vou incomodar outros com os meus medos, não vou ficar amargurada se outras pessoas não entenderem do que se trata, para nós, judeus. Esta certeza não vai ser corroída ou invalidada pela outra. Trabalho e vivo com a mesma convicção e acho a vida prenhe de sentido, cheia de sentido apesar de tudo, embora já não me atreva a dizer uma coisa dessas em grupo. O viver e o morrer, o sofrimento e a alegria, as bolhas dos meus pés gastos e o jasmim atrás do quintal, as perseguições, as incontáveis violências gratuitas, tudo e tudo em mim é como se fosse uma forte unidade, e eu aceito tudo como uma unidade e começo a entender cada vez melhor, espontaneamente para mim, sem que ainda o consiga explicar a alguém, como é que as coisas são…
...E no entanto, Deus, não acho a vida desprovida de significado, quanto a isso não posso fazer nada. E Deus também não nos deve explicações pelas coisas sem sentido que nós próprios fazemos; somos nós quem tem de dar explicações. Já morri mil mortes em mil campos de concentração, sei de tudo e também já não fico apoquentada com novas notícias. De uma ou de outra forma, já sei tudo. E todavia, acho a vida bela e cheia de sentido…” – Etty Hillesum, Diário, 1941-1943, Teofonias, Assírio & Alvim, págs. 217 e 211, edição com prefácio (luminoso) do Padre Tolentino Mendonça.
Etty Hillesum. Holandesa. Nasceu em Middelburg, na Zelândia, a 15 de Janeiro de 1914. A 30 de Novembro de 1943, a Cruz Vermelha comunicou a sua morte em Auschwitz. Não chegou a viver três meses no campo para onde a levaram a 7 de Setembro.
1 comentário:
Obrigada por tão belo post.
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