terça-feira, 8 de abril de 2008

"Uma imagem de Portugal"


Porque tal como o Pe Tolentino Mendonça, também cá em casa quando vimos a fotografia no Público de Sexta-Feira passada ficámos com a respiração suspensa e com a cabeça e o coração em turbilhão. Porque quer a fotografia, quer o texto dizem muito acerca da Vida e do que se vive em Portugal e também porque, através de um dos técnicos do INEM a quem foi dado ajudar a este nascimento, conheci esta realidade logo no dia em que o bebé viu a luz deste mundo, não resisto a deixar aqui este GRANDE TEXTO a propósito do 8º prémio fotojornalismo Visão/BES com que hoje me cruzei no site da Ecclesia:

«Uma imagem de Portugal

Que Augusto Brázio é um fotógrafo fabuloso já o sabíamos. Diante da difícil prova que é fotografar um rosto ele sai quase sempre vencedor. E eu diria que é porque não o quer capturar. Mesmo próximos, os rostos mostrados por Brázio, mantêm a sua distância e reserva. Olham para nós, mas a partir do que lhes é próprio. Por isso, nunca são planos, nem banais. Porém, mesmo sabendo isso, a fotografia com que ele acaba de ganhar o prémio fotojornalismo de 2008, tirou-me, por momentos, a respiração. Sem perceber como, os olhos já estavam embaciados, e o tempo corria sem que eu tivesse coragem de passar à notícia seguinte.

A legenda da imagem diz: “O INEM presta assistência a uma mulher de 19 anos cujo terceiro filho acaba de nascer em casa. Lisboa, Fevereiro de 2007”. “A mulher de 19 anos” é uma rapariga de um dos bairros pobres da capital, estendida numa maca de ambulância, a cabeça reclinada ao lado direito, presa a uma máscara de oxigénio, enquanto abraça com delicada firmeza o seu recém-nascido. Ela tem uma camisola ou um roupão rosa e o filho está (como o Outro Filho, de que reza a história) “envolto em panos”, de cor azul.

Quem já contemplou uma “Madona con il Bambino”, de Rafael, Boticelli ou de qualquer um dos grandes mestres já viu tudo o que aqui tem diante dos olhos. O mesmo grito impávido, um inenarrável desamparo, o mesmo abraço fragilíssimo e poderoso àquele que gerou. E a certeza de que nenhuma história é mais humana e mais sagrada do que esta. Mas, nem por isso, perante esta fotografia nos deixa de sobrevir uma vontade de chorar.

Portugal é um país estranho. As estatísticas dizem que o número de pobres não deixa de crescer, e o desnível económico entre os grupos sociais é um dos mais altos entre os países da Comunidade. As notícias sobre compensações e reformas milionárias chocam-nos cada vez mais remotamente. A euforia de um liberalismo arcaico, travestido de modernidade, aparece como receituário. E a inconsciência social ganha espaço como se fosse uma fatalidade. A imagem de Augusto Brázio vale por milhares de palavras.


José Tolentino Mendonça»

10 comentários:

Anónimo disse...

PL,
Não confunda "liberalismo arcaico" com liberalismo.
Essa imagem é possível, até mais, é instanciada em todas as sociedades do Mundo, agora e sempre.
Acontece com todas as mães (aparte certas patologias da psique - também muito estudadas).

Confundir alhos com bugalhos, a partir desse nobre sentimento retratado, e que extravaza mãe e filho para nos iluminar a todos, ficaria mal em quem preza o pensamento filosófico nos seus posts.
Compreendo o apelo poético. Mas de facto não há aqui qualquer implicação necessária com ideias tais como liberalismo/conservadorismo ou sacralidade/areligiosidade.

E é muito feio utilizar estas coisas para justificar as loucuras do vosso blogue.

De qualquer maneira, Tolentino de Mendonça é sempre bem vindo. Parabéns por isso.

Cumprimentos,
João Resendes

Anónimo disse...

As �nicas loucuras deste blog s�o os visitantes que nada compreendem e atiram granadas por tudo e por nada!
Fa�a umas f�rias Jo�o Resendes

Anónimo disse...

Concordo, João Resendes. Esta gente do Vale de Acór deve andar toda a fumar erva!

Primo de Rivera

Anónimo disse...

Quem é que vocês julgam que intimidam, jsm/zala/az/catfon? (Foram os últimos a postar no computador das fontes maradas).

Anónimo disse...

Pobres anónimos do costume, bem me tenho preocupado com a sua saúde psíquica, mas parece que não há mesmo nada a fazer.Enfim, vá lá que a Deus nada é impossível, mas tal como nós eles são livres e portanto podem continuar a negá-Lo.
Enfim, coitadinhos, tenhomesmo pena deles.

Vera

Anónimo disse...

O que tem Deus a ver com as ideias veiculadas neste blog, Vera?

Você é tão parvinha...


Primo de Rivera

Anónimo disse...

óh "falange" então não sabe que Deus tem a ver com tudo... até consigo.
"la passionaria"

Anónimo disse...

Viva!, "passionaria", como está? Tem passado bem?

Anónimo disse...

Isto está só, mas mesmo só, um bocadinho surrealista!...

Salvador Dalí

MRC disse...

Excelente post e excelente foto !