sábado, 31 de março de 2007

DO QUE AQUI SE TRATA

“A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade.” - Da encíclica Fides et Ratio, João Paulo II, 1998.

Como propõe Bernard Lonergan, um teólogo jesuíta, in Método na Teologia, Roma, (1971), p. 86, inserindo-se na linha de Sto Agostinho e S. Tomás de Aquino, para se ter uma perspectiva verdadeiramente integrada da realidade é necessário “ser atento, inteligente, razoável, responsável”, sentindo ainda necessidade de acrescentar uma quinta característica – ser “enamorado”, ou seja, homem autêntico.
E ser homem autêntico significa muitas vezes sofrer por ter de viver num mundo marcado pelo pecado, pelos seus efeitos e consequências e dos quais não estamos isentos.
É difícil aceitar as nossas limitações e às vezes somos tentados pelo desânimo e pela frustração, quando a nossa vocação e as nossas convicções mais profundas parecem chocar contra a dura realidade.
Mas, seguindo o exemplo de tantos santos que nos precederam, nunca podemos resignar-nos, nem aceitar facilmente que a realidade, tão imperfeita, seja necessariamente a vontade de Deus. Com as nossas forças, com a luz e a Graça que Deus nos vai dando, precisamos lutar sem desfalecer para que as coisas mudem e melhorem.
Estou consciente que não podemos mudar o mundo, mas que onde quer que estejamos, com os meios que Deus põe ao nosso dispor e com os demais que põe no nosso caminho, devemos contribuir para que o Reino de Amor, Justiça e Paz se realize cada vez mais plenamente.
Exprimo, por outro lado, distância crítica face a qualquer objecção de carácter utópico relativamente aos ideais aqui apresentados. “O Ideal, aquilo que uma coisa deve ser”- Hegel, Carta a Dubock - pauta o ritmo do viver quotidiano daquele que se quer enxertado em cepa rica, enquanto recusa de um status uniformizante, imposto, por exclusão de uma liberdade que se quer iluminada e não tanto iluminante, que se quer guiada porque excentrada – ela conhece o centro que não é ela mesma -, menos centrada e muito menos descentrada.
O dever ser diz de um descontentamento, é um desejo inquieto do que é mais além, é inconformista e sacia-se quando faz repouso em regaço alheio. O descontentamento não é a marca do viver quotidiano. Este tem os seus lugares de fácil realização, mediados por uma métrica que apenas sacia temporariamente – leia-se os lugares de consumo, os lugares de férias paradisíacos, os carros topo de gama, as moradias de luxo, …- uma vez que é habitado por um soberano inclemente e intolerante a que chamamos ego. A mudança de agulha impõe sacrifícios se quisermos deixar-nos invadir pela suavidade de um jugo de uma Alteridade maior. Fora de Estrutura não é ser desestruturado. É ter uma Outra Estrutura.
Será disso que aqui tratarei e é por isso que aqui estou e que com muito gosto aceitei fazer parte deste grupo de amigos Fora de Estrutura, unidos por esta mesma vontade. Hoje, quando mais uma vez em Lisboa, muitos (poucos para a maioria informada) se congregam pela Vida, em defesa da inocência a que os grandes nunca darão voz.
PL

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