Os desempregados do sistema e as Bolas de Berlim
19 agentes da Polícia Marítima, 21 da GNR, 6 do SEF e mais 6 da insuperável ASAE (nova versão da polícia de costumes) lançaram-se, vertiginosamente, na perseguição de perigosos vendedores de bolas de Berlim. Foi no nosso Algarve, por estes dias.
E a despropósito de bolos veio-me à ideia uma pergunta: onde param os desempregados dos antigos ideais socialistas de paixão centralista? Dou um palpite: talvez que uma boa parte dos que ficaram órfãos depois da queda do Muro de Berlim se tenham reciclado e sejam agora ‘chefes’, pequenos burocratas sublimados, pontuais cumpridores dos limites de velocidade. Mas, como antes, continuam igualmente obstinados, inflexíveis, e não muito inteligentes. Anseiam com fidelidade canina por mais uma lei do Estado, anódina e mesquinha, para impor e fazer cumprir. São eles que dão ordens aos agentes para que se persigam os tendeiros, os que fazem bolos com colheres de pau, os que preparam enchidos com as perigosas práticas tradicionais, e os que fumam! Disciplinados, quadrados, legalistas, europeístas convictos, ei-los a dar ordens aos subalternos enquanto marcham a 'passo de ganso’ prontos a filar no primeiro 'ilegal' que lhes sair ao caminho. O Muro caiu mas que ninguém se fique a rir e a comer bolas com creme. Como as pessoas, também os povos que não têm coragem de enfrentar o que é importante, distraem-se...
2 comentários:
Caro Pope
Boas tardes, antes de mais, e perdão por esta invasão! Queira ler na compreensão de que foi o entusiamo da concórdia!
Não concordo com a vossa análise de quem faz isto... mas concordo com o escândalo da perseguição!... é porém um acordar para algo que já está em acção à muito tempo em relação à nossa gastronomia doceira...(ou toda ela) aos bolos caseiros nos nossos cafés e pastelarias... enfim, tanto que há a dizer sobre isso. Trata-se da destruição de tudo o que nos é próprio e bom ,de todo o artesanato, etc. Não é só os doces, já se vê. É apenas quase ''por milagre'' que ainda temos queijo como deve de ser algures, feito de leite não pasteurizado, e cardado - em vez de com um processo horrível moderno. Mas se nada fazemos, está tudo isto à beira do desaparecimento total.
Guarda quem isto ordena os segredos do ofício, para depois de esquecido e por eles dominado, vender como produto patenteado a preços exorbitantes, porque produtos que só eles dominam, e exclusivos, como sempre foi a maioria do nosso artesanato.
Quase todo o nosso artesanato e gastronomia são verdadeiras preciosidades de valor económico - e lá, nos países onde nenhuma dessas preciosidades existem, e é tudo uma porcaria, sabem disso.
Farão com que se esqueça...para dominarem.
Vivi (infelizmente) em vários países, e sei o que é as pessoas ficarem com dores de cabeça devido aos químicos nos vinhos - os vinhos portugueses eram preciosidades de pureza e bom artesanato, por comparação mesmo com imensas boas marcas de vinhos franceses... Isto, só para dar outro exemplo.
Enquanto o objectivo tiver que ser o lucro e as finanças, e o poder... não saímos da cepa torta, e desculpem-me - permitam-me - a meu ver, ingénuo, achar que são uns ou os outros, da direita ou da esquerda, que fazem isto. É mais ''Les uns ET les autres''...
Que belíssimo sub-título o vosso!! É isso mesmo!! Que bem escolhido: PODER SER CONTRA PODER.
Pelo menos o poder do príncipe deste mundo. Que cansaço horrível!!
Cumprimentos
Depois de todo este desabafo a propósito das vezes que eu ouvi falar nas pastelarias das proibições sobre o fabrico dos bolos, etc... e sabendo por experiência, a porcaria que daí advém, desejo-vos a continuação de um bom blog.:)
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