domingo, 24 de fevereiro de 2008

O 7º Dia

O teu corpo é o teu corpo e a tua alma é a tua alma e foste parte desta espécie que é o homem. Tiveste um nome que te deram e a junção de todos os teus actos foram recolhidos na bolsa de onde vieram. Agora não tens tempo, nem hoje, nem depois. Não tens parcelas, nem vasos foscos onde dorme o esquecimento. Vives na eternidade. Que é sempre o agora, antes e depois, no ponto onde tudo se junta dentro e fora do tempo. O que és e o que foste são os teus actos e nós somos a memória incompleta desses actos, o que resta de ti quando já não és. Somos a tua sobra, o teu testemunho, o dia que serás. Tu foste. Depois da morte vem a eternidade. Continuas a ser, mas já não és, agora és tudo, desde o teu pai e de tua mãe, desde o acto da Criação, desde o acto da Criação até ao fim dos fins, és o tudo que cabe no acto que é sempre o agora. Tudo está em ti, todos os teus actos dispersos e caóticos, perdidos e fortuitos, sáo um só. Juntos, uma gota de tudo o que és dentro da eternidade. Tu és o tudo de todas as coisas que se juntam. A memória é o pó, a saliva, a terra lambida. É o gesto da dor e do sofrimento de quem ainda não sabe. Resta-me a cinza: sentada no banco verde, ao fim da tarde, quando o tempo ainda era tempo e havia lágrimas, ouvi-te chorar e dizer-te a cor e o derrame. Rezo-te, Cândida, porque te desejo a eternidade.

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