O Kosovo e o Escudo anti-mísseis americano
1º A Grande Sérvia conheceu o seu apogeu nos sécs XIII-XIV. Foi a época das famosas igrejas de cinco cúpulas, das gravuras sobre ouro, dos mosaicos, dos ícones e dos frescos. É também dessa época o ciclo das grandes epopeias nacionais servias do Kosovo, então parte integrante da Grande Sérvia. Porém, em 1389, nesse mesmo Kosovo, a nobreza sérvia soçobra face aos Turcos numa trágica batalha . Seguem-se séculos de dominação muçulmana. Os albaneses cedem: 70% da população abraça o Corão (note-se que os 30% restantes ainda foram a tempo de dar ao mundo, no séc XX, a Madre Teresa…). Idem com as gentes do Kosovo. Com outra tenacidade os sérvios resistem. Sobretudo em torno do Patriarcado Sérvio-Ortodoxo. Até que no início do séc (1815-17) retoma a sua independência, mas já então ‘dependente’ da protecção russa.
2º O Kosovo ‘independente’ será o primeiro país de maioria muçulmana na Europa (88% da população). Diz-se que outras 200 regiões por esse mundo fora aspiram a igual secessão. Passando por Taiwan. E também pelo País Basco e a Catalunha. Aliás, na própria Europa, para além de Portugal, raros são os países sem fracturas nacionalistas. Mesmo até na insonsa Escandinávia, como é o caso da Finlândia ou da Dinamarca.
3º Descobre-se aqui também uma total desconsideração da Europa como mapa cultural e religioso. Sobreleva-se a disponibilidade para pagar a factura de apoio a Israel e a tentativa de não excitar a vingança muçulmana. A Europa liberal (leia-se pós -e o mais das vezes anti- cristã) atropela as árduas costuras da sua própria história. Convidam-se os Turcos, Kosovares e amanhã os milhões de muçulmanos que por aqui já campeiam para nos ensinar a ser europeus. Como se houvesse alguma hipótese de perenidade fora da excelência que fomos buscar não à técnica, ao dinheiro ou aos militares (já frutos da civilização europeia e não causa da mesma…) mas a uma ideia de homem como pessoa, com dignidade e responsabilidades face à existência, inextrincáveis do apelo e do dom cristão.
4º Corriam os primeiros tempos da primeira presidência Bush. Ufano da excelência militar da sua pátria, e para a defender de ataques exteriores, o Presidente prometeu o escudo protector anti-mísseis: perfeito, inexpugnável, inultrapassável. Até que caíram as Torres gémeas. Atingidas por aviões que tinham levantado voo dentro do solo americano. Ou seja, dentro do tal escudo anti-mísseis!
5º Quem brinca nos Balcãs costuma aleijar-se. Muito! Lideres agarotados (vide o tosco Bush, ou os que se perfilam para o substituir, mas também o nosso standardizado Sócrates ou esse Zapatero desengraxado mental …) julgam que basta estender um pouco de arame farpado entre fronteiras e acenar com o abono da entrada na UE para aclamar os ânimos dessa gente. Não será assim. As vicissitudes são inúmeras nesses Balcãs de intensíssima história: tensão e violência, coragem, liberdade, desfaçatez, composição e recomposição.
Creio que o que hoje protege a América, e a nós também, é pouco mais do que muita burrice farpada.
1 comentário:
« Foi ensinado por uma mãe professora, que o retinha na sala de aulas para lhe dar lições suplementares, enquanto as outras crianças corriam ao sol.
Os anos passaram e ele tornou-se intelectual, ou seja, alguém cuja inteligência o impede de pensar. Escreve livros sobre vagabundos do séc. XIX, buscando em vão, na poeira dos arquivos, a luz que iluminava o recreio da escola ao toque das cinco.».
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