“Com uma certa razão…”
Vasco Pulido Valente tem vindo a refinar com o tempo, o que significa que os momentos lúcidos são cada vez mais frequentes! Sobre o ‘mal-estar difuso’, que também glosei, escreve ele no jornal ‘Público’:
“ (…) Desde o princípio do século XVIII que Portugal quis ser ‘como a Europa’ e até hoje infelizmente não conseguiu. A cada revolução, a cada guerra civil, a cada regime, o indígena prestável, alfabeto, e ‘modernizante’ supunha que chegara ‘o dia’. E ‘o dia’ invariavelmente não chegava. (…) O português copiava com devoção o que via ‘lá fora’. Mas não saía da sua inferioridade e do seu atraso. No meio desta persistente desgraça, Portugal julgou três vezes que se aproximava da Europa: durante os primeiros tempos da ‘Regeneração’, durante o ‘fontismo’ e durante o ’cavaquismo’. Ao todo, trinta e tal anos de uma ordem política ‘civilizada’ e de um crescimento razoável. Mesmo assim, os fundamentos destes raríssimos milagres não eram sólidos. Nos três casos (embora com um ligeiro atraso), uma crise financeira pôs fim à festa e voltou a velha angústia nacional, a que por aí se convencionou chamar ‘mal-estar difuso’. O ‘mal-estar difuso’ é simplesmente o regresso à realidade. Portugal não tem meios para o Estado-providência e a espécie de vida que os portugueses reclamam. E como não tem, toda a gente se agita e ninguém faz nada com sentido. Esta fase também é conhecida.”
Este é um tema inesgotável mas por mais voltas que a gente dê… desagua sempre no Atlântico, e eu acrescentaria, na Lusitana Antiga Liberdade, única fórmula a meu ver viável (e foi) de garantirmos a existência ou sobrevivência de um país, à partida inviável.
Fonte: Jornal ‘Público’ de 29/02/2008.
“ (…) Desde o princípio do século XVIII que Portugal quis ser ‘como a Europa’ e até hoje infelizmente não conseguiu. A cada revolução, a cada guerra civil, a cada regime, o indígena prestável, alfabeto, e ‘modernizante’ supunha que chegara ‘o dia’. E ‘o dia’ invariavelmente não chegava. (…) O português copiava com devoção o que via ‘lá fora’. Mas não saía da sua inferioridade e do seu atraso. No meio desta persistente desgraça, Portugal julgou três vezes que se aproximava da Europa: durante os primeiros tempos da ‘Regeneração’, durante o ‘fontismo’ e durante o ’cavaquismo’. Ao todo, trinta e tal anos de uma ordem política ‘civilizada’ e de um crescimento razoável. Mesmo assim, os fundamentos destes raríssimos milagres não eram sólidos. Nos três casos (embora com um ligeiro atraso), uma crise financeira pôs fim à festa e voltou a velha angústia nacional, a que por aí se convencionou chamar ‘mal-estar difuso’. O ‘mal-estar difuso’ é simplesmente o regresso à realidade. Portugal não tem meios para o Estado-providência e a espécie de vida que os portugueses reclamam. E como não tem, toda a gente se agita e ninguém faz nada com sentido. Esta fase também é conhecida.”
Este é um tema inesgotável mas por mais voltas que a gente dê… desagua sempre no Atlântico, e eu acrescentaria, na Lusitana Antiga Liberdade, única fórmula a meu ver viável (e foi) de garantirmos a existência ou sobrevivência de um país, à partida inviável.
Fonte: Jornal ‘Público’ de 29/02/2008.
3 comentários:
Citação de João Pinto e Castro (5dias.net):
Yesterday 14:58|João Pinto e Castro
Grande lição de história nos oferece Vasco Pulido Valente no Público de hoje:
“No meio desta persistente desgraça, Portugal julgou três vezes que se aproximava da Europa: durante os primeiros tempos da “Regeneração”, durante o “fontismo” e durante o “cavaquismo”. Ao todo, trinta e tal anos de uma ordem política “civilizada” e de um crescimento económico razoável. Mesmo assim, os fundamentos destes raríssimos milagres não eram sólidos. Nos três casos (embora com um ligeiro atraso), uma crise financeira pôs fim à festa (…).”
E, noutro passo:
“A sociedade ia, como é óbvio, mudando: devagar, aos sacões. Só que a distância que nos separava da Europa não diminuía.”
Fascinante. Mas será verdade? Vejamos então como evoluíu ao longo do tempo a proporção entre o produto per capita português e o inglês:
1870 - 30,6%
1913 - 25,4%
1950 - 30,0%
1973 - 58,7%
2003 - 64,8%
A posição relativa de Portugal melhorou progressivamente e de forma muito acentuada na segunda metade do século XX. A evolução comparada com outros países desenvolvidos revela a mesma tendência, pelo que não vale a pena continuar. Vasco Pulido Valente está errado quando pretende que não tem diminuído a distância que nos separa da Europa.
Está também errado quando enumera os três períodos de alegada convergência. Nem a Regeneração nem o Fontismo produziram resultados notáveis, e foi nos anos 50 e 60 do século passado, não durante o consulado de Cavaco, que o país mais cresceu tanto em termos absolutos como relativos.
Os dados que utilizei foram retirados de Contours of the World Economy (1-2030 AD), um livro publicado em 2007 por Angus Maddison - provavelmente a maior autoridade mundial na matéria - na Oxford University Press.
É claro que a metodologia adoptada por Maddison para construir as suas séries estatísticas pode ser discutida, e que quanto mais se recua no tempo maior é a probabilidade de erro. Mas não só não se afastam muito do que os historiadores económicos já sabiam como, representando o estado da arte, ninguém tem o direito de ignorá-las.
Este é apenas mais um dos muitos casos em que, comprovadamente, Vasco Pulido Valente não sabe do que fala.
Os Ingleses, tal como Portugal, não podem, e aliás têm fugido sempre á referençia europa.
Precursos e problemas semelhantes, os numeros penso que deviam ser analizados sobre esse prisma.
O anónimo incomodativo devia mostrar-se.
M.Lobo
Caro anonimo
A estatística e a visão economicista da história, não a esgotam, nem a explicam. Por exemplo, a fazer fé nos números elencados a revolução dos cravos terá interrompido a melhor perfomance em termos de crescimento económico, afastando-nos por outro lado da almejada Europa! Não seria da europa como sugeriu M.Lobo, mas da Inglaterra, o que é diferente, pois não é ela que nos torna periféricos. Também espero que compreendam que publiquei o texto de VPV para tirar conclusões diversas do autor. Ressalto a cópia infeliz de modelos estranhos à nossa cultura, que as mais das vezes a mutilam e descaracterizam, desmobilizando a população. A palavra chave do desenvolvimento não tem medição estatística, chama-se confiança, confiança no sistema político, entre governantes e governados, confiança no futuro. As ditaduras dão uma aparência de confiança, mas não trazem verdadeira confiança. A democracia sozinha, por si só, sem o resto, não funciona, e por isso também não gera confiança. E, repito, sem confiança não há futuro. São estes os aspectos que me interessaram no texto, e que têm a ver com a nossa identidade e destino.
Cumprimentos.
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