quarta-feira, 19 de março de 2008

o menino

De dentro do caixão a mãe quase o erguia:"meu filho, meu filho". Tinha os cabelos desalinhados, perdidos, a mão estendida num gesto inócuo. A camâra mortuária era um silêncio, um véu de fogo. As crianças da turma juntavam-se a um canto, o silêncio era uma ferida, um golpe na alma de cada um. Ninguém dizia nada só o choro estendia o que sobra da linguagem. Quando os professores chegaram, a mãe correu para o presidente da escola. Ficaram assim abraçados, um tempo infinito, o que resta de cada um. Mais tarde, não sei quantos minutos, chegaram os escuteiros, a catequista e os companheiros da catequese. O Prior pediu para rezarem. Houve um escuteiro que pegou na guitarra e cantou o Pai-Nosso e os outros a chorar. A oração penetrou a sala, cobriu as paredes e o que está dentro. Era como se a oração envolvesse o nó do mistério, o nó da morte. A mãe olhava de frente, um olhar denso, e rezava com a voz clara. Sem medo era o jugo da esperança, do que está depois e antes. O rosto da mãe era um traço, uma comunhão. Do seu filho que morreu na aula de ginástica aos treze anos. Voltou novamente ao caixão e deu-lhe um beijo na face. Olhava o filho com paixão e amor e rezava a Avé-Maria com a voz limpída, o lastro da fé.

1 comentário:

Anónimo disse...

:-S