sexta-feira, 25 de abril de 2008

25 de Abril de 74?

Passados 34 anos a cangalha ideológica é a mesma, o rastreio do pensamento idêntico. Nada muda, os personagens de sempre, os discursos iguais. É esta a tristeza de Abril. Não haver o rasgo, o gesto, a denúncia. Os capitães, os militares, um referente que a história sedimentou. Nada mudou de Abril, os gestos solidificados na argamassa de um tempo que quis ser memória. Mas a memória só existe quando é presente, quando se actualiza, quando a História se diz do que foi. Mas nada disto existe no 25. Só os afectos das histórias apagadas que se querem recordações. A memória não é só recordação. É espirito vivo, interior, de dentro. Onde está o poema, o quadro, o filme, o choro? Onde está a alma e a eternidade para sempre? A memória é recordação quando é vida, quando se passa nas veias e na carne. O 25 de Abril não produziu uma obra de arte, o espanto, o arrebatamento, a grandeza. E esta é uma dor enorme, palha de aço. Quando um facto não produz e não é capaz de produzir um objecto artístico é porque morreu ou nunca existiu. Ou é um souvenir, objecto de plástico, eternamente infantil.

13 comentários:

Anónimo disse...

http://www1.ci.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=artplas
, até Vieira da Silva!
, as pinturas murais, para já não falar das canções, e.g.

Uma gaivota voava, voava,
assas de vento,
coração de mar.
Como ela, somos livres,
somos livres de voar.

, ou José Afonso, o melhor músico popular português do séc. XX e que prenucia o 25 de Abril, ou Fernando Lopes Graça - Requiem pelas Vítimas do Fascismo,

ou José Saramago sobre a temática do fascismo, Que Farei Com Este Livro? por ex.

, ou, etc., etc., etc.,

e tal,
e tal,
e tal..................................................


Não, NÃO, não, não E NÃO!, não
há dúvida que não quero falar consigo, Gito pequenino.

Anónimo disse...

Era o que faltava os esquerdistas começarem a escrever aqui.

Apre, Belzebu!


Primo de Rivera

Anónimo disse...

E agora sou eu a trazer um artigo do Pulido Valente, tão amado do João Saldanha (e quiçá para a educação e proveito do Ginete, perdão... Gito e a quem mais aprouver).

"O 25 de Abril

26.04.2008, Vasco Pulido Valente

A "revolução" do 25 de Abril foi um sinal de atraso, o fim anacrónico de um regime anacrónico. Na Europa civilizada e "desenvolvida" ou "semidesenvolvida" - em França, na Alemanha, no Império Austro-Húngaro - as revoluções, se a palavra é justa, acabaram em 1848. Mas continuaram na periferia: na Rússia, em Espanha e em Portugal; e, depois da II Grande Guerra, só houve algumas tentativas, logo sufocadas, nos países que a URSS ocupava. Foi por isso que o 25 de Abril teve tanto de teatral. Consciente ou inconscientemente, as figuras do drama, ou do melodrama, copiavam uma tradição. A chegada de Álvaro Cunhal com o discurso em cima da Chaimite copiava a chegada de Lenine à estação da Finlândia. O cerco da Assembleia copiava o cerco à Convenção. E os grupúsculos de esquerda e extrema-esquerda copiavam os clubes de Paris. O PREC não trouxe nada de verdadeiramente original.
De resto, não se pode em rigor chamar ao 25 de Abril uma "revolução". Em sentido técnico o 25 de Abril não passou de um pronunciamento militar; de um "contar de espingardas", como se dizia à época, esperando que o exercício bastasse, como em geral bastou, para excluir a violência. O povo veio depois festejar para a rua e proclamar a sua liberdade, correndo ou maltratando os milhares de tiranetes que o oprimiam ou ele julgava que o oprimiam. Era a "festa", uma encenação que não tocou na realidade: no pessoal do regime, na diplomacia e até na PIDE, que se escapuliu para reaparecer mais tarde e receber uma pensão do contribuinte. Tirando as leis que instituíram a democracia, o PREC não deixou uma única reforma necessária e durável. E, com as suas pretensões socializantes, que persistiram até hoje, tornou uma sociedade já fraca mais submissa e dependente do Estado.

Em contrapartida, o 25 de Abril serviu para cortar Portugal do insustentável passado da colonização e para o empurrar para a Europa, como a maioria dos portugueses queria. O abandono de África não provocou nenhuma resistência interna, provando a artificialidade (e a fragilidade) do imperialismo indígena. A "Europa" de Bruxelas criou, sobretudo durante o "cavaquismo", uma compreensível euforia. Por um tempo o país pensou que seria um país "normal", próspero, organizado, moderno. Como era inevitável, a ilusão durou pouco. O velho Portugal reemergiu sob novas formas, mas reemergiu. Voltámos, como de costume, a uma "inferioridade", que desta vez não é atribuível a qualquer demónio externo ou azar histórico. E não existe no saco dos milagres outro 25 de Abril para nos "salvar"."


Primo de Rivera

JSM disse...

Um ponto prévio: as guerras civis, no caso, as lutas fraticidas entre portugueses, não se comemoram para além do dia da vitória de uns, que é o dia da derrota de outros. Isto é elementar.
Depois há que dar os parabéns ao Gito pelo seu magnífico postal que tocou no âmago da questão: a diferença entre memória e recordação, sendo que a memória colectiva tem que ser sentida e vivida por todos e não apenas por alguns. A memória constrói e mantém comunidades porque todos nela se espelham. Datas como o 25 de Abril, 28 de Maio, 5 de Outubro, para não ir mais atrás, são datas que dividem os portugueses, não unem ninguém. Logo, voltando ao princípio, e usando uma expressão feliz de um poeta cantor: "quem ganhou, ganhou, e usou-se disso...". Fim de citação.
Agora o VPV: - que afinal disse tudo o que o Gito disse, só que como é seu hábito não deixou nada de pé! E ele, estaria de pé, quando escreveu a crónica!
Finalmente a gaivota que já não voa: se a juventude desconhece a data, como foi dito na celebração, então já sabemos que a gaivota não tem futuro, pois como disse o Gito não faz parte da memória colectiva. Serve para o museu, mas não serve para a vida.
Cumprimentos e peço desculpa ao Gito por ter respondido abusivamente a algumas questões. O postal é dele e eu dou-lhe mais uma vez os parabéns!

Anónimo disse...

25 de Abril uma guerra civil?
25 de Abril divide os portugueses?

Aprecio a vossa maluquice e sentido de humor, Saldanha e Gino, mas tudo tem limites. Confundir duas pessoas (ou 3 ou 4 ou 5 para acomodar os restantes desestruturados) com qualquer número significativo de portugueses é do domínio do risível.

O vosso conservadorismo é bacoco e parvo.


Primo de Rivera

MRC disse...

A vantagem do 25 de Abril está no feriado. Tudo o resto é foclore e discursos chatos e que nos causam sono.
Sobra a liberdade de expressão que é, sem dúvida, uma grande conquista.
O resto devia estar no presente e não está. O Estado continua a oprimir, agora, de forma mais sofisticada, subtil e silenciosa; os tribunais e hospitais não funcionam; etc.etc.etc.

Anónimo disse...

Boa noite Gito:
Não consigo entende-los, nem a si nem ao JSM que contra o que há dias afirmei, é deselegante quanto à questão do VPV estar de pé...há hábitos que afinal se pegam... tal como o João Pinto na tal final de futebol: faltam argumentos- agride o árbitro!
Entendo e respeito o seu sentimento em relação ao 25 Abril. Não vou perguntar se lamenta a tristeza por ser decepcionante em relação à evolução que se esperaria na sociedade portuguesa, ou se pelo contrário lamenta o anterior regime,a saudade do seu poema, quadro, filme e choro, mais choro!Porque com a censura parece -me ter havido menos poema, filme,quadro,choro do que agora pós 25 de Abril, com todos os erros e defeitos que lhe encontre.
Porque concordará comigo, que se mais nada houver para celebrar, haverá o arrebatamento da liberdade com que dizemos o que sentimos; haverá a grandeza de sabermos argumentar sem insultar ninguém; haverá o espanto de como foi possível prender, torturar, outros Homens , nossos semelhantes, apenas e só por não pensarem como nós.Mas a liberdade não é só negada por uma prisão; è também negada a todos os que por falta de instrução ou pobreza são facilmente apanhados por novas prisões.E este quadro negro vem de há muitos anos, como sabe. O analfabetismo era à volta de 48% em 1974 enquanto um terço da população activa pertencia ao sector primário.
Em 1426, como sabe na famosa Carta de Bruges, D. Pedro alertava o seu irmão o Rei D. Duarte para os males da Nação. Afligia-o a ignorância do povo que deveria ter acesso a estudos "continuados". Porque , diz D. Pedro"a cultura é a luz da razão e o horizonte de felicidade dos povos. Ser culto é por isso ser justo, temperado, prudente, forte e magânimo...Perdoe -me a ironia, mas acha que através só do sua crónica o poderemos considerar um homem culto ou um intelectual?
A propósito envio-lhe um texto líndíssimo escrito por uma Senhora que lamento não saber o nome, Monárquica, que um Amigo usou em homenagem a João Camossa, também Monárquico e que viu o 25 de Abril de uma forma diferente.
“Comuna foi a palavra lançada a desfavor dos ventos e marés dos socialismos abundantes depois do 25de Abril e eis que ficou enigmática e brilhante como estrela nova em céus desvendados, portadora de múltiplas ressonâncias, tanto revolucionárias como longa e medievalmente tradicionais.
E esta palavra, assim aparentemente paradoxal que sugere subversão, parece acordar também o eco longínquo de certa liberdade julgada há muito extinta no altar das massas e do Estado: a liberdade de cada um.
Ao mesmo tempo desperta em nós o desejo e as forças de um amor comum por algo de comum, ainda indefinido mas perto de nós, alcançável, interpretado e açambarcado por sistemas e partidos mas que os ultrapassa sempre, os gasta e corrói porque nasce a cada momento da liberdade de cada momento.”
Acredito que não seja o seu poema de Abril, porque não tem nada a ver com a palha de aço da sua dor,nem com o souvenir infantil de plástico.
Para que se produzam obras de arte , é necessário haver artistas!
O instante pode ser arrebatador, qualquer facto extraordinário. Mas é sempre preciso alguém que o entenda para conseguir reproduzir com igual intensidade.É natural, que também não se tenha apercebido do que existe.E, como não viu , nem sentiu,nem se emocionou, lembrar-se-á vagamente mas não recordará!
Entendo-o perfeitamente. E, sabe que há mais gente como o Gito. Dão mais importância à técnica - são sensiveis a outras coisas.
Foi interessante ler o que escreveu. Pouco mais avançou no tema do que os adversários do famoso PREC. Curioso, hem?
Por apenas serem textos de opinião , parece-me que tudo já foi dito, não acha? Nenhum de nós tem a veleidade de mudar o outro.
Foi um prazer. Até sempre.
MSM

Anónimo disse...

Be
Lost
on a painted sky
where the clouds are hung
for the poet’s eye
you may find him
if you may find him

We dance
to a whispered voice
overheard by the soul
undertook by heart
and you may know it
if you may know it

There on a distant shore
by the wings of dreams
through an open door
you must know him
if you may

While the sand
would become the stone
wich begat the spark
turned to living bone
Holy, Holy
Sanctus, Sanctus

Be
as a page that aches for a word
wich speaks on a theme
that is timeless
while the sun god will make for your day
sing
as a song in search of a voice
that is silent
and the one God
will make for your day

Anónimo disse...

MSM: Como já alguém disse, você nunca leu o blog Fora de Estrutura, e só por isso pode estar surpreendida...

Anónimo disse...

Fernão Capelo Gaivota e Fausto...

Uhmm, uhmmmm, er, uhm, isto está muito esquerdista....

Anónimo disse...

Têm razão.Estas ideias não são as minhas.E estamos tão longe que nem a discussão delas me interessa. Não pertenço a este sítio.Não tenho nada em comum com quem acha que o 25 de Abril( só o proprio dia) é lamentavel.O Pós 25 de Abril é passível de muitas discussões interessantes.Possivelmente concordam com os Campos de Concentração ( em qq parte do mundo), Guantanamo.
O blog é Vosso, meus Senhores.Eu é que deixo de ser Vossa leitora.
MSM

Anónimo disse...

MSM tem razão.

Deixo uma achega sobre o tema de Rui Tavares, historiador, no Público;

28.04.2008, Rui Tavares

No filme A Vida de Brian, dos Monthy Python, uma das personagens mais estúpidas pergunta: "Mas afinal, que fizeram os romanos por nós?" Alguém sugere: "o aqueduto", "os esgotos", "as escolas", "as estradas", e por aí adiante. O primeiro vai ficando irritado até que finalmente se vê forçado a responder: está certo, mas, tirando os aquedutos, os esgotos, as escolas, as estradas, o direito, o comércio, e essas coisas todas, que fizeram os romanos por nós?
Na sua crónica de sábado sobre "O 25 de Abril", Vasco Pulido Valente [V.P.V.] garante-nos que, "tirando as leis que instituíram a democracia, o PREC não deixou uma única reforma necessária e durável". Com os termos definidos por V.P.V., em que 25 de Abril e PREC são tratados como intermutáveis, eis de novo a questão de A Vida de Brian: "Mas afinal, que fez o 25 de Abril por nós?"
Só que a resposta de V.P.V. é mais divertida: "tirando as leis que instituíram a democracia", nada. Por outras palavras: tirando eleições livres e justas, imprensa sem censura, extinção da polícia política, partidos políticos, fim da tortura e dos presos de opinião, liberdade de manifestação e associação, que fez o 25 de Abril por nós? Nada.
Alguém diz: então e a guerra? Eu não sei se o fim da guerra é uma "reforma": para mim, é melhor do que isso. Ora, diz V.P.V., o "abandono de África não provocou nenhuma resistência interna, provando a artificialidade do imperialismo indígena". Pois tirando o fim da guerra, que foram 13 anos de "nenhuma resistência interna", mais a "artificialidade" de uns milhares de mortos, temos o quê? Nada.

E que reformas nos deixou o PREC? Três ao acaso: universalização das pensões de reforma, generalização das férias pagas e Serviço Nacional de Saúde. Mas não sei se cabem na definição de "necessárias" e "duráveis" de V.P.V.
Terá sido a extraordinária diminuição da mortalidade infantil "durável"? Para os interessados, parece que sim. Terão sido necessárias as pensões adicionais? Para o milhão que passou a usufruir delas em poucos anos, sim. E as férias? Essas, como diz toda a gente, são muito necessárias mas pouco duráveis.
Recapitulemos: tirando os recém-nascidos que sobreviveram, os velhos que recebem pensões, os jovens que não foram à guerra e lotaram as universidades, os adultos que gozaram férias e o pessoal todo que viajou para o estrangeiro sem ser "a salto", nem precisar de passaporte, que fez o 25 de Abril por nós? Nada.
Vasco Pulido Valente tem no entanto razão se pensarmos que em qualquer revolução há sempre coisas que já vinham de antes e outras que ocorrem depois, que a história é uma coisa atrás da outra, e que o resto é conversa. Um exemplo: a entrada na UE não é o 25 de Abril. Mas é muito duvidoso que chegássemos a uma coisa sem a outra.
A não ser, é claro, para as mentes retroactivas da direita portuguesa, que ainda lamentam Marcelo Caetano, porque nunca deixaram de acreditar que a única maneira de nos aproximarmos das democracias teria sido sempre dar mais tempo aos nossos regimes autoritários.
Em suma: tirando esse pormenor da democracia, tirando a descolonização e tirando o desenvolvimento, que fez o 25 de Abril por nós? Ridiculamente pouco, pelo menos se comparado com Vasco Pulido Valente, que só nos últimos meses já nos garantiu, para além desta pérola, que Menezes chegaria a primeiro-ministro e Mitt Romney seria o próximo Presidente dos EUA.

JSM disse...

É pena que o Rui Tavares não tenha desistido de visitar e ler este blog! O que será que ele ainda encontra aqui?! Se não estou enganado o Rui Tavares é o mesmo que participou pelo lado republicano nos 'prós e contras', se é esse, para tantas linhas bastam-me duas linhas: " temos ruínas romanas e ideias gregas", e ele faz parte das ruínas. E como não pertenço nem gosto da convivência Astérix, ao reproduzir aquela conclusão, mantenho-me equidistante do cepticismo de VPV e do optimismo do jovem Rui Tavares.
Apenas mais uma achega: apesar dos esforços continuados da esquerda para nos agarrar ao passado Abrilesco (não se esqueçam da ditadura nas comemorações do 'centenário') é preciso notar que o mundo havia de girar sem deixar para trás este bocado de terra portuguesa. Portanto, cuidado com os anacronismos, doença comum entre os nossos 'cronistas'.
Cumprimentos.

Post-Scriptum: E não se esqueçam de pôr na conta de Abril as guerras civis ( sem férias pagas e com fome) que deixámos atrás da nossa fuga covarde.