segunda-feira, 31 de março de 2008

Trieste

Trieste é o fim, o último lugar. Trieste é a fronteira, o limite, depois de Veneza e do verde da planície, é o fim. Aqui é o fim, mas tudo pode começar de novo. Em Trieste é sempre o fim, não se sabe quando. Depois da montanha chega a Eslovénia, a Croácia e o resto. As montanhas escondem segredos. Nunca se sabe o que está do outro lado. Trieste espera como sempre esperou. No século dezanove, antes de Viena, era Trieste. Antes de Viena, o mar era a chegada. O porto, o grande porto, as grandes ideias, a Mittleuropa, a grande ideia do Império, Itálo Svevo, antes da primeira guerra. Trieste era o grande porto de entrada no Império, quase morreu, e, depois, do outro lado da montanha chegou Tito, outra guerra, refugiados italianos expulsos do ventre das serras e do mar. Agora, depois da missa no cemitério de Santa Ana, à mesa, diante do mar, a velha senhora de olhos claros disse o que todos sabem aqui. A guerra vai começar, não se sabe quando, mas vai começar. Eles, os da Sévia, nunca se rendem. Na noite cerrada, em pleno porto, diante da Igreja de Santo António, o mar ruge no abismo de cada destino. Trieste é o fim. A fronteira. Mas a fronteira nunca acaba. A fronteira é o cansaço e o eterno recomeço. No abismo desta cidade, em crise, sempre em ruptura, a sua identidade é sempre uma pergunta, um caminho, um colapso. A grande espera é a sua essência: onde é Trieste?

2 comentários:

Anónimo disse...

:-S

Anónimo disse...

Que quer dizer o sinal?

Primo de Rivera