Reconhecimento de um milagre
Por estes dias andei pelo Alentejo.
Naquele Alentejo onde é possível o encontro com a imensa planície, com a possibilidade de ver para além daquilo que se avista, com o silêncio que fala para além do que se pode ouvir, com a beleza imensa que jamais conseguiremos ver em toda a sua plenitude, com a percepção que tudo é muito maior do que alguma vez se possa pensar e com a enorme Liberdade que de tudo isto advém.
Naquele Alentejo no qual, mesmo em alturas em que parece que se vai perdendo a nossa identidade, em cada monte há uma pedra, uma ribeira, uma edificação que nos fala da nossa História, daquilo que somos como Povo.
Estive, entre outros lugares, no Mosteiro Flor da Rosa, no Crato, que foi edificado por ordem de D. Gonçalves Álvares Pereira, pai de D. Nuno Álvares Pereira, local que a este para sempre estará ligado e onde actualmente se encontra instalada uma das Pousadas de Portugal. E é com muita alegria e dando Graças pela feliz coincidência, que leio que o Papa Bento XVI abriu ontem as portas à Canonização do Beato Nuno de Santa Maria, ao autorizar a promulgação de dois decretos que reconhecem um milagre atribuído ao futuro Santo português e as suas virtudes heróicas.
Também relativamente aos pais de Santa Teresinha do Menino Jesus - Luís Martin e Maria Zélia – foram reconhecidos milagres.
Acrescente-se ainda que no também no dia de ontem não me deixou indiferente ouvir que as primeiras palavras de Ingrid Betancourt depois da sua libertação foram para agradecer a Deus tal libertação.
Finalmente, ontem também foi apresentada proposta de alteração ao Código Deontológico dos Médicos, proposta essa na qual o aborto e a eutanásia deixam de ser consideradas faltas graves.
Dos exemplos recolhidos lembro Eric Voeglin que afirmava do espaço político ser um lugar de tensão. Mutatis mutandis o mesmo podemos dizer do espaço social, ou melhor, do espaço sócio-religioso. De um lado os que manifestam reservas em relação à vida, do outro os que se esgotam em promovê-la – um milagre é na sua essência uma afirmação da força da vida. É curiosa a relação entre esta realidade que é o milagre e a própria vida. O milagre parece ser uma outra forma de expressão da vida, talvez a sua mais poderosa forma de expressão e, ao mesmo tempo, um sinal de que a Vida esconde potencialidades que ninguém poderá suster.
Por fim, parece que existe uma afinidade profunda entre quem tem casa, quem tem lugar onde habitar e quem tem história, lugar onde o tempo desenha o futuro e a vida. Quem, empobrecido por esta ausência, concebe artificialismos que distorcem a relação com a história e os lugares, assume tendência para manipular, instrumentalizar, dominar, precisamente porque não há enraizamento, nem relação.