Ei-las!
"...São muitas as questões que deveriam ser analisadas rigorosamente antes de assumir esta medida. O que parece não afligir ninguém, excepto os próprios toxicodependentes que sabem, por amarga experiência, que este caminho não conduz a uma luz ao fundo do túnel, mas condena a um túnel definitivamente sem luz.
Os decisores políticos, nestas matérias, são os "donos" dos destinatários, falam por eles, falam deles e, temo, raramente com eles.
As salas de chuto representam mais uma capitulação, de todos nós, face a esses e tantos "outros". Dá-se de barato que pouco ou nada se pode fazer por eles e entregam-se à sua circunstância, em vez de os tratar, reintegrar e devolver à vida, às suas capacidades e ao seu futuro.
Tentadoramente mais fácil, esta medida vistosa tem ainda a vantagem de se verem livres deles. Mas esta vantagem está camuflada pelas vestes da falsa compaixão e, por isso, não etiquetável de politicamente incorrecta. Fácil, indolor, invisível.
Desde o Admirável Mundo Novo, de Huxley, até ao New Age, passando pelo post-modernismo, as sociedades vão-se afogando no seu próprio modelo de individualismo libertário. Com a crescente complexidade dos problemas, a sua globalização, a fragmentação social, a perda de raízes e referências, as novas doenças, as desigualdades estratificadas, o aumento do abandono e da solidão, o desânimo generalizado, a depressão em cadeia, podemos dizer que a receita não provou. Hoje, os homens estão mais sós, mais vulneráveis, mais tristes e perdidos no seu interior. E se há coisa que este mundo admirável não previu foi tempo e paciência para cuidar deles. Daí ter-se vindo a especializar em medidas light, do tipo, "coitados, deixem-nos lá!". E é isso mesmo o que vamos fazer: pô-los e deixá-los lá."
Artigo de Mª José Nogueira Pinto publicado no DN há cerca de um ano.
Esta semana, com a implementação da distribuição de seringas, algumas prisões transformam-se nas primeiras "Salas de Chuto" do nosso País.
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