Aquilino Ribeiro
Aproveitando a deixa pertinente de JSM, acrescento mais duas palavras sobre a trasladação da decência nacional, hoje acontecida.
Nascido no Portugal que se esvaía na degradação política do final do século, Aquilino ganhou direito a um lugar no panteão.
Não porque seja um escritor impar. De facto, porquê ele e não, por exemplo, o príncipe Almada, ou Pascoaes, sempre grandioso, ou, também, o Régio poeta, que despertou para a poesia (quase) todos os que se lhe seguiram. E porque não, ainda, Torga, como nenhum outro entusiasmado com a sua terra, ou Sofia de Melo Breyner, não por rendição ao critério das quotas mas por genuíno mérito da autora? Trata-se de reparar uma injustiça histórica? Então que dizer de Herculano e de Camilo, ausentes do panteão?
Certa vez, pouco antes de 1 de Fevereiro de 1908, dois homens ajustavam o manuseamento de uma bomba. Esta veio a explodir, e aqueles morreram. Nessa circunstância o agora novo inquilino do panteão foi preso. É que era ele o dono do quarto/campo de treinos onde os dois ensaiavam. Acresce que, posteriormente, participou também no regicídio! Por conseguinte, pode dizer-se que se ajeitava bem nesse ambiente hoje só comparável com o mundo do terrorismo.
Portanto, e obviamente, o mérito que trouxe este homem ressentido com a nobreza até ao panteão, este humanista medíocre e pequeno escritor regional até às luzes da ribalta, deve ser encontrado, não nas páginas da literatura, mas por entre os papéis que registam os que se acoitavam na maçonaria. É ai que se encontra a razão de ser da tolerância do regime para com este homem intolerante .
Enfim, é caso para dizer que o panteão está inquinado com a publicidade da Loja.
19 comentários:
Um grande escritor chegou ao seu lugar
Aquilino Ribeiro no Panteão, ontem, foi um momento solene e deu azo a polémica. Cavaco Silva chamou-lhe "um dos grandes prosadores da literatura portuguesa do século XX". Falava como Presidente de Portugal, que é, e não como crítico literário, que não é. Um crítico pode questionar o valor literário de qualquer escritor, mas Portugal tem de reconhecer que Aquilino é um "grande", como bem disse o Presidente. Que se defina grande: aquele patamar onde estão os outros escritores do Panteão, como Almeida Garrett, Guerra Junqueiro, João de Deus e Teófilo Braga. Nesse patamar está certamente o autor de O Romance da Raposa, O Malhadinhas e A Casa Grande de Romarigães. Mais alto, no Panteão, só Luís de Camões (que tem lá um monumento fúnebre, embora sem corpo).
Foi nessa condição, a de grande escritor, que Aquilino Ribeiro ganhou o Panteão. A polémica procurou-lhe, porém, outra condição. Aquilino é acusado de ter participado no atentado de que foi vítima o rei D. Carlos. Se é certo que o escritor esteve ligado aos meios antimonárquicos, nunca foi feita a prova da sua ligação ao regicídio de 1908. Fica o seu militantismo antimonárquico, que não pode ser argumento para lhe negar o Panteão que acolhe portugueses de afirmação partidária tão convicta como Garrett, Humberto Delgado, Óscar Carmona e Sidónio Pais.
Editorial, DN, 20.09.2007
Caro Pope
Agradeço-lhe a instrução do processo para que todos percebam que afinal o dito panteão não é nacional mas apenas um 'jazigo de família'.
Post Scriptum: Entretanto verifico que este assunto tem arrastado para a caixa de comentários imensos comentários dos mais diversos matizes e dos mais diversos autores, publicados quer na imprensa, quer na blogosfera. Caro Pope peço-lhe licença para agradecer, em meu nome, ao anónimo e pressuroso mensageiro a sua preocupação com este assunto. Enquanto ficamos a aguardar a opinião do próprio.
Um abraço.
Aquilino Ribeiro no Panteão Nacional, mas ainda longe das escolas e das livrarias
20.09.2007, Alexandra Prado Coelho
O Presidente da República considerou o autor de O Malhadinhas como "um dos grandes prosadores da literatura portuguesa do século XX"
"Se li Aquilino Ribeiro? Claro, como não?" A declaração é feita pela mais improvável das cerca de 50 pessoas que, ontem de manhã, esperavam junto da Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa, para assistir à trasladação dos restos mortais do escritor para o Panteão Nacional. Quem fala é um homem de sotaque espanhol, olhos azuis, cabelos claros. Apresenta-se: Ivica Starkevic, adido cultural da Embaixada da Croácia em Portugal, um "país de muita cultura".
Ao lado do diplomata está José Manuel Dionísio, português, que confessa que nunca leu Aquilino, tal como, um pouco mais acima, Regina Duarte e Leonor Coutinho, que foram ali para ver a sobrinha, uma das alunas que vêm da Escola Aquilino Ribeiro de Vila Nova de Paiva para assistir à cerimónia.
"Não há vagar" para ler, justifica-se Dionísio, acabando por confessar que, antes de lhe explicarem, "não estava bem a ver quem era". Trabalha na Junta de Freguesia e ajudou a pintar os muros junto do Panteão, por isso decidiu ir espreitar o que se passava. Até porque havia espaço para isso - ao contrário do que aconteceu quando o corpo de Amália Rodrigues foi levado para o mesmo local. "Aí tive que me pôr no telhado da minha casa, que é aqui ao lado, para conseguir ver. Mas sabe como é, nem toda a gente lê, preferem ouvir música."
Solenidade e sorrisos
Poucos minutos depois, às 11h00, como previsto, o caixão com os restos mortais de Aquilino Ribeiro - que morreu em 1963, e cujo corpo esteve até ontem no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa - é transportado para o interior do Panteão. Cá fora já não se ouvem os gritos das crianças que há pouco brincavam ali perto, mas, à passagem do caixão, as pessoas que assistem batem palmas. No interior, o ambiente é solene. Os convidados - ministros, deputados, o presidente da Assembleia da República Jaime Gama, o primeiro-ministro José Sócrates, o Presidente Cavaco Silva, algumas (poucas) figuras da cultura, jovens estudantes, membros da Confraria Aquiliniana vestidos a rigor, de capas verdes e segurando um estandarte - levantam-se.
Quebrando um pouco a solenidade, e provocando mesmo sorrisos, as palavras de Aquilino ecoam pelo Panteão, quando o actor Ruy de Carvalho lê excertos de O Malhadinhas (1946), antes de a Orquestra Metropolitana de Lisboa, dirigida pelo maestro Cesário Costa, interpretar Tentações de São Frei Gil: Tentação da Morte, de Luís de Freitas Branco.
Seguem-se os discursos. Cavaco Silva chama a Aquilino "um dos grandes prosadores da literatura portuguesa do século XX". E acrescenta: "O universo de Aquilino Ribeiro, povoado de tipos que todos conhecemos, com destaque para o Malhadinhas, é o universo português. Deleitamo-nos com os seus arcaísmos e os seus regionalismos porque nos revemos neles. E porque, apesar do decurso do tempo, continuamos a encontrar o homem português em cada página dos grandes livros de Mestre Aquilino." Por tudo isso, sublinhou o Presidente, "ler Aquilino Ribeiro é ler um certo Portugal, mas é também ler o mundo".
"Escritor do mundo"
Momentos antes, Jaime Gama considerara o escritor "um digno representante da liberdade indomável do espírito humano", "um português que pensou e amou genuinamente a pátria lusitana" e "um escritor do mundo". E terminara, dizendo: "Ao senhor da língua, da gramática e do estilo, ao grande mestre do livro e das letras, nesta cerimónia de trasladação dos seus restos mortais para o Panteão Nacional, respondemos: Aquilino Ribeiro, Portugal presente!"
O que os aquilinianos lamentam é que, apesar das homenagens, quando se diz manuais escolares e livrarias, tem de se dizer "Aquilino ausente". Foi isso que disse ontem no Panteão o jornalista António Valdemar, a quem coube fazer o elogio fúnebre. Lembrou o "grande escritor", o "grande cidadão", alguém que "possuía sem ostentação uma cultura esmagadora", que gostava dos sabores tradicionais, "as trutas, as perdizes, a vitela assada", que costumava dizer que "quem não tem paladar não tem carácter", um "resistente à ditadura" e um homem que se recusou a "ficar calado e a pactuar com a indiferença e a apatia", e que "fez da escrita um espelho do mundo e uma arma de intervenção".
Esquecido e pouco lido
E lamentou a pouca divulgação da sua obra literária (a Bertrand decidiu, entretanto, lançar em edição comemorativa A Casa Grande de Romarigães, com as ilustrações que João Abel fez para a primeira edição, e O Malhadinhas). "Qualquer escritor é vivo enquanto é lido", disse António Valdemar. Para que Aquilino possa "transpor a austera solenidade deste Panteão", é necessário que volte aos manuais da escola, seja reeditado, possa ser encontrado nas livrarias por quem o desejar ler. "É isto que queremos", concluiu. "É a isto que Aquilino Ribeiro tem direito."
O mesmo pensa Jerónimo Costa, regedor da Confraria Aquiliniana, criada em 2002, para aprofundar "a componente gastro-enófila na obra de Aquilino" e recuperar as memórias de pessoas que o conheceram. "Tem sido um escritor esquecido", confirma, "pouco lido, pouco divulgado". Porque é que os textos de Aquilino estão ausentes dos manuais escolares? Jerónimo Costa não acha que "seja deliberado". Será antes "o resultado de uma sobreposição de outros valores, algum facilitismo, a cedência a algumas modernidades".
A ouvir a conversa está Rafael Luís Miguel da Silva, que se apresenta como um admirador do escritor Guerra Junqueiro. "Sabia que no dia 15 deste mês passaram 157 anos sobre o nascimento de Guerra Junqueiro?" Abana a cabeça, com desânimo. "Ninguém se lembrou, ninguém falou no poeta. Fui o único a vir aqui pôr-lhe uma flor. Daqui a uns anos vai acontecer o mesmo com Aquilino."
Leva-nos à Ala dos Escritores, à direita de quem entra no Panteão. Dos quatro túmulos, três estão despidos - os de Almeida Garrett, Guerra Junqueiro e João de Deus. O quarto está cheio de flores. É o de Amália.
Público, 20.09.2007
«A simples ideia de um Estado de direito em 1908 é uma curiosa extravagância.»
Não me oponho à trasladação de Aquilino, mas concordo em absoluto com a ausência de todos os Autores que citou. Digo-o, aliás no meu PALAVROSSAVRVS REX.
Abraço
Não me faças rir mais ainda, JêSeMê!!!!!!!!!!
Caro JSM
Vestigios do ADN ideológico do Anónimo, deixados nos comentários deste blogue, permitem concluir que:
1º o Anónimo lê os jornais;
2º o Anónimo intóxica o público obrigando-o a ler os mesmos jornais que ele lê;
3º o Anónimo confunde o mundo generoso dos seus estimáveis sentimentos de simpatia com a 'razão', que não tem;
4º o Anónimo sente-se mais confortável no papel de Anónimo;
5º o Anónimo irá abrandar, certamente, a sua activa pertinácia neste blogue, empenhado que estará com as visitas guiadas ao panteão e a guarda de honra do mesmo.
Mas quem será este Papão ou Popão , ou o que raio é, que para aqui anda? E que tem tão má veia poética... oh se tem... olarilolé!
Tem mais blogues? Diga lá, que estamos tão ansiosos por ir lê-los.
E não se quer identificar, para a gente saber, de quem são estas tão inefáveis peças de prosa?
Para o Estimado Anónimo anterior:
Creio que seria melhor recentrar o debate em Aquilino. Enigma, charada, estranho, obscuro,é entender, ou, melhor advinhar ou intuir a (não) razão que o trouxe para dentro do panteão.
Sobre a minha modesta pessoa: lembro-lhe uns versos (meus ou doutrem, pouco importa!) já que me dizem com perfil e ser:
A miséria do meu ser,
Do ser que tenho a viver,
Tornou-se uma coisa vista.
Sou nesta vida um qualquer
Que roda fora da pista.
Ninguém conhece quem sou
Nem eu mesmo me conheço
E, se me conheço, esqueço,
Porque não vivo onde estou.
Rodo, e o meu rodar apresso.
...
Não, não.
O pe. Pedro, o João Távora, o Manuel Arriaga e Cunha, o Nogueira Ramos, já estão referenciados.
Falta o Pope, o Gito e o JSM.
O Gito também já pôs o nome.
Este anónimo deve ter caído de pára-quedas na blogosfera e bateu concerteza com a cabeça nalgum lado. Para além disso percebe-se que passou ao lado de uma carreira policial para a qual denota evidente vocação. Referenciados, diz ele!
Por caridade vou ensinar-lhe duas coisas, a primeira é que nunca se esqueça que é uma visita numa casa alheia, que lhe oferece de borla qualquer coisa para ler e se entreter. Se não gosta, paciência. Em segundo lugar aceite que na blogosfera a identidade se constrói na coerência dos textos e dos comentários, e não com nomes e apelidos, que podem significar apenas isso.
Portanto se quer saber alguma coisa sobre a minha pessoa, sobre o que penso, ou sinto, leia-me, mas com atenção. E afaste de si esse cálice policial e persecutório. Além do mais não é verdade que não possa saber quem sou! Estou na blogosfera há quase três anos, tenho duas 'casas abertas', a funcionar, existe sempre a possibilidade de me contactar por e.mail. Mas claro que não podemos saber tudo o que queremos, essa é a parte misteriosa da vida de cada um. Contente-se com aquilo que tem e dê graças a Deus.
Saudações monárquicas.
Ora aí está por que não tem pejo de fazer aqui afirmações sem qualquer base de sustentação. Mais uma referência!... Estamos agora informados de que os seus ditames não valem nada.
De qualquer modo, peço desculpa. Não sabíamos ainda que tinha medo de assumir publicamente o que diz aqui.
Contrariamente a si, não dissemos aqui nada que necessite, ou mereça :-)) !, de assinatura.
Quanto ao Pope, há quem sustente tratar-se na realidade do pe. Pedro, em versão mr. Hyde. Não acreditamos, nem gostamos da Noite. Mas é tambem por isso que deveria identificar-se.
Não vamos exagerar, afinal nós já nos conhecemos, eu sou monárquico e Você não é, eu sou do Belenenses, e Você não é, eu escrevo coisas que pouco valem e Você gostaria que eu conseguisse superar-me. Mas apesar da sua última intervenção, estou convencido que não antipatiza comigo, nem o meu nick name o assusta, atendendo a que não dá muita importância ao que escrevo. Por isso eu continuarei a escrever por aqui e Você passará à frente. Quanto ao Pope que o preocupa, lamento não poder ajudá-lo, mas sugiro-lhe o mesmo tratamento - passe à frente.
Cumprimentos.
Em assuntos da Igreja não passamos à frente.
HAMLET:
O, I die, Horatio;
(...)
I cannot live to hear the news from England;
(...)
The rest is silence.
Dies.
(«Hamlet» subiu ao palco do Teatro Maria Matos no passado dia 13 de Setembro e permanecerá em cena até 21 de Outubro)
Pois.
Jesus, Sua Majestade. Meu caro JêSeMê.
aquilino ribeiro nao presta
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