quinta-feira, 4 de outubro de 2007

O tempo de Marques Mendes

A grande dificuldade de um político é conciliar o seu tempo com a época em que vive. Integrar as suas ideias, os seus valores, projectar e adivinhar o futuro. Marques Mendes não o fez, não ficará para a história do PSD como Sá Carneiro ou Cavaco. Mas teve grandes intuições, afirma um tempo. Foi formado nas bases do PSD, conhece o aparelho por dentro e por fora, os militantes, tem um sentido de dever. Durante anos foi Ministro dos Assuntos Parlamentares e muitos dos seus combates no Parlamento foram lições de estratégia política. Ajudou a afirmar a Direita Portuguesa, esteve com Cavaco, Barroso, lutou contra Portas e o "Independente". A história do PSD nos anos de ouro é a história de Marques Mendes. Foi fiél a príncipios, valores, ideias. Conquistou o cargo de Presidente num momento difícil e teve coragem. Não teve medo, afrontou o mais duro, os militantes, os seus exageros. Disse não a Valentim, a Isaltino, à confusão na Câmara. Perdeu e foi ás "directas", supremo saufrágio do caciquismo. Acreditou nas instituições e aí percebeu que o seu tempo não é este tempo. Não chega dizer mal da justiça, que os tribunais não prestam, os juízes comprados. Isso é Maio de 68, o hedonismo feliz da guitarra de Bob Dylan. O estado de direito, da afirmação plena do bem comum, constrói-se na relação e crença com as instituições ( De Gaspari). O futuro do Estado, como agente de bem, só se faz com as instituições. E aí morreu Marques Mendes. Chamaram-lhe "inocente", "vendido ao Ministério Público", que a partir de agora qualquer indiciado era culpado. Ficou sózinho, na solidão, a natureza humana repugna a perca. Vai-se embora, não tem mais nada a dizer, não vai ao Congresso. O silêncio de um homem grande é terrível, abre fendas na terra, no coração.

1 comentário:

Anónimo disse...

Concordo plenamente com a descrição do 'heroi'. Só não o revejo é no personagem descrtio na pessoa de M Mendes. Direita? Certamente um excelente guarda pretoriano mas isso não faz(fez) dele um bom general. Isaltino? Valentim
? Puro demagogia, face ao 'barómetro' de audiências, a perscrutar aonde lhe rendiam mais votos medidas popularuchas. Carmona provou que Mendes voava baixinho: terrivel não fazer a diferença entre trauliteiros encartados (de novo Valentim e Isaltino) e um homem que era apenas indiciado e que o PSD deixou cair. Aliás, eu mesmo mto longe de qualquer entusiasmo pelo anterior PCML, não posso deixar de sublinhar a gravidade e perversidade de tomar por sentença o indiciamento judicial. Mas sobretudo aonde estava na luta contra o aborto? Esquivando-se por entre subtilezas tácticas, à Cavaco, escondeu-se. No azinhaga mediocre por onde seguia, saiu-lhe ao caminho outro mais atrevido do que ele. Talvez para bem da direita portuguesa, que deixará de ser representada por gente mesquinha,que não quer ser chamada de direita nem ser vista na Missa, de joelhos, a rezar, como De Gasperi...Por favor, Gito, não baixe a notável ambição cultural dos seus 'post' confundindo M.Mendes com alguém na história de Portugal.
António de Oliveira Ascensão