Uma boa causa

Também sou forçado a concordar com o André, que os desafios práticos e concretos da realidade portuguesa, o nosso endémico atraso cultural e económico, a mentalidade paternalista, dificilmente seriam resolvidos pela simples deposição da república.
Mas acontece que, como diz o André, a república em Portugal nasceu de um equívoco. E a mim parece-me que há demasiado tempo que fazemos tábua rasa a demasiados equívocos. E, impassíveis, adulteramos a nossa história, mascaramos o presente e comprometemos o futuro.
Assim, não me parece sábio que se deixe cair o ideal monárquico, mesmo que ele aparente ser despropositado. Poucos anos antes do regicídio, a monarquia aparentava fimeza, os republicanos eram apenas uma franja marginal no palco político. Mas as agendas da história reservam-nos sempre espantosas surpresas.
Por mim, parece-me que somos um povo confuso nos valores e uma sociedade sem referências. Um país cujas cidades ostentam os nomes de Elias Garcia e Cândido dos Reis (quem conhece as suas obras?) nas suas mais importantes artérias. Um país que só no futebol descobre os seus símbolos é um país sem alma, em deficit de identidade. Confundido, estéril. Os símbolos de uma nação inspiram a ética e um ideal comum...
Finalmente, também concordo com o André que a discussão da “monarquia” poderá ser “bafienta”. Assim sendo, cabe então a nós elevar-lhe o nível! Estranho por exemplo, como num pais pretensamente civilizado, tardam em assumir-se núcleos de monárquicos nos partidos políticos. Custa-me a perceber de que se escondem os tão valorosos (e conhecidos) simpatizantes monárquicos na vida pública nacional. Será bafienta cobardia, ou apenas medíocre calculismo?
A monarquia é um assunto sério, e eu acredito que pode comportar a regeneração nacional. Para já, cabe à minha geração não deixar morrer a discussão, antes revitalizá-la, enriquecê-la. A largueza de perspectivas só pode beneficiar o pais, sem prejuízo da gestão corrente do Portugal possível. Pode ser amanhã, na próxima geração ou daqui a duzentos anos. A monarquia constitucional, é um sistema intemporal e civilizado, é um ideal legítimo e patriótico. Preparemo-nos para o são e sério debate, pois a res publica merece e oportunidades não faltarão nos próximos anos.
Publicado originalmente no Corta-fitas
10 comentários:
Muito bem!
O Fora de Estrutura é um grande blog monárquico.
Parabens!
Ao serviço do demónio.
Isabel Heredia Sousa
Li também o texto e senti que tudo deixou de ser importante: democracia por democracia, mais vale ficarmos como estamos.
Agora, identidade por identidade, cada vez me convenço mais de que uma família irreal ou realística talvez funcionasse como um farol com o qual nascemos e morremos e que permanece lá, brilhando identitário.
Escreve-se muito. Nada muda.
Caro João Távora
Parabéns pela oportunidade deste texto que incomoda sempre os que não querem mexer na situação. É porque estão bem concerteza! Fazem-me lembrar o Marcello Caetano que uma vez se 'espalhou ao comprido' quando disse aos jornais que já não havia uma 'questão de regime' em Portugal. O Salazar levantou-se da cama e depois de lhe dar um raspanete mandou recolher os jornais que publicaram a declaração do delfim. A mesma coisa se aplica ao texto que citou publicado no Insurgente - são análises que olham para a superfície das águas e pensam que tudo se reduz ao que conseguem vislumbrar! Nunca lhes passaria pela cabeça que o paraíso que Tito construíu na Juguslávia se transformaria num inferno passado alguns anos. A análise superficial nunca conta com as forças profundas que habitam nos abismos que cada um de nós transporta sem saber. À mínima falha emergem e viram tudo do avesso. Se de repente começar a faltar o pão que nos chega sem sabermos como, nem de onde vem... veremos o que acontece. O comentário vai longo, um abraço.
Repito aqui o que já disse no Corta-fitas:muito pertinente;a ser muito levado em conta pelos monárquicos,se querem efectivamente chegar a bom porto,não se ficando pelo sonho.
É de facto como o João diz. As correntes subterrâneas geram surpresas. Obrigado e um abraço, João. Grato pela visita da Cristina e do Joshua!
Confirma-se então o blogue monárquico!
E concordo com a Isabel:
Um blogue inteiramente ao serviço do demónio.
Rezarei por vós e pela vossa salvação, que é difícil, só ao alcance de Jesus, em Fátima hoje.
"A monarquia constitucional, é um sistema intemporal e civilizado, é um ideal legítimo e patriótico."
Completamente de acordo.
Afirmar que "a monarquia constitucional é um sistema intemporal" obriga o sr J Távora a voltar aos bancos da escola. Já ouviu falar da "Carta"? Conhece, ao menos de ouvido, o pensamento do Integralismo Lusitano? E as suas criticas substantivas ao tal sistema intemporal???
Por outro lado os cretinos que falam aí em cima de demónio e de rezar deviam também saber o catecismo. Neste caso, especificamente, no que diz respeito ao 2º mandamento. Parvinhos informáticos!
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