O zero absoluto existe
Andava à procura de um título que definisse o programa de prós e contras que a televisão pública emitiu ontem à noite, encontrei-o com a ajuda de alguém a quem recorro nestas emergências e que me sugeriu que conjugasse o verbo existir com o “Z” daquilo que não existe, não fui tão longe, mantive o “X” que retrata bem este país empatado, incógnito, de pais incógnitos e cuja memória se reduz à cantoria do hino!
Na plateia estavam combatentes do Ultramar, estavam alguns patriotas, muitos traidores, estavam refugiados, estava um guerrilheiro da Frelimo, um ministro da Guiné, estavam comissários de Abril para bater palmas, a irresponsabilidade era o mote, a justificação do injustificável o objectivo. Cabia à moderadora levar o programa até ao fim dentro das baias do politicamente correcto, que consiste afinal em relativizar tudo para que todos tenham razão! Um outro objectivo, exterior ao debate mas que foi patente ao longo da emissão, teve a ver com a publicidade a uma ‘série’ que a RTP vai transmitir em breve, cujo tema é a última guerra que travámos em África. Segundo o autor, a obra destina-se especialmente à juventude que não conheceu a ‘guerra colonial’. Fico a aguardar e só espero que não se transforme em mais uma campanha de alfabetização.
Tentando sair do zero absoluto confirmo aquilo que sei: cumprimos o serviço militar obrigatório na convicção de estarmos a defender a Pátria, independentemente do regime que vigorava na altura; estávamos também a defender as populações que em nós confiavam e não se sentiam minimamente representadas pelos chamados movimentos de libertação; fomos vencidos e esbulhados de territórios que estavam à nossa guarda e isto aconteceu no jogo das grandes potências, durante a guerra-fria, e não soubemos ou não conseguimos resolver a tempo os desafios políticos que esse mesmo tempo nos colocou; resta-nos a dignidade de assumir a derrota sem procurar extrair daí quaisquer vantagens ideológicas ou partidárias, e pelo respeito que nos merecem os que se bateram, não nos devemos enganar com vitórias morais.
Uma nota final com vista ao futuro: como monárquico, mas sobretudo como português, sempre senti que o regime republicano não tinha capacidade para agregar e desenvolver uma comunidade de estados ou autonomias em redor de um projecto comum. Projecto esse que tem na língua, mas principalmente na vivência secular a sua trave mestra. Hoje, face às dificuldades que o mesmo regime tem em lidar com as autonomias regionais, a anterior convicção reforçou-se. Portanto, o espectáculo de recriminação mútua que todos os dias as sucessivas repúblicas nos oferecem, é inútil e aproxima-nos cada vez mais do zero absoluto.
Na plateia estavam combatentes do Ultramar, estavam alguns patriotas, muitos traidores, estavam refugiados, estava um guerrilheiro da Frelimo, um ministro da Guiné, estavam comissários de Abril para bater palmas, a irresponsabilidade era o mote, a justificação do injustificável o objectivo. Cabia à moderadora levar o programa até ao fim dentro das baias do politicamente correcto, que consiste afinal em relativizar tudo para que todos tenham razão! Um outro objectivo, exterior ao debate mas que foi patente ao longo da emissão, teve a ver com a publicidade a uma ‘série’ que a RTP vai transmitir em breve, cujo tema é a última guerra que travámos em África. Segundo o autor, a obra destina-se especialmente à juventude que não conheceu a ‘guerra colonial’. Fico a aguardar e só espero que não se transforme em mais uma campanha de alfabetização.
Tentando sair do zero absoluto confirmo aquilo que sei: cumprimos o serviço militar obrigatório na convicção de estarmos a defender a Pátria, independentemente do regime que vigorava na altura; estávamos também a defender as populações que em nós confiavam e não se sentiam minimamente representadas pelos chamados movimentos de libertação; fomos vencidos e esbulhados de territórios que estavam à nossa guarda e isto aconteceu no jogo das grandes potências, durante a guerra-fria, e não soubemos ou não conseguimos resolver a tempo os desafios políticos que esse mesmo tempo nos colocou; resta-nos a dignidade de assumir a derrota sem procurar extrair daí quaisquer vantagens ideológicas ou partidárias, e pelo respeito que nos merecem os que se bateram, não nos devemos enganar com vitórias morais.
Uma nota final com vista ao futuro: como monárquico, mas sobretudo como português, sempre senti que o regime republicano não tinha capacidade para agregar e desenvolver uma comunidade de estados ou autonomias em redor de um projecto comum. Projecto esse que tem na língua, mas principalmente na vivência secular a sua trave mestra. Hoje, face às dificuldades que o mesmo regime tem em lidar com as autonomias regionais, a anterior convicção reforçou-se. Portanto, o espectáculo de recriminação mútua que todos os dias as sucessivas repúblicas nos oferecem, é inútil e aproxima-nos cada vez mais do zero absoluto.
1 comentário:
Concordo consigo JSM, e para além do mais, duvido muito que esta série tão anunciada seja muito diferente dos outros vinte mil programas sobre este mesmo tema que não poucas vezes vemos na TV pública. Vai ser outra vez vira o disco e toca o mesmo.
um abraço,
joana
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