terça-feira, 12 de junho de 2007

Camões por nós

Vi jeitos do homem ser saneado nos dias tumultuosos de Abril, associaram-no ao Estado Novo, às longas celebrações do dez de Junho, à guerra colonial, por tudo isso, Camões estava no banco dos réus!
Mas a memória é curta, porque por outras provações já tinha passado o poeta enquanto morto!
Pode dizer-se que tudo começou em 1880, numa iniciativa para celebrar o terceiro centenário da sua morte, data entretanto adquirida através de um documento perdido na Torre do Tombo. As comemorações foram um êxito o que aguçou o apetite do emergente partido republicano que não mais descansou enquanto não se apropriou de Luís Vaz. Apropriou-se primeiro da Câmara de Lisboa e de imediato decretou o dia dez de Junho como feriado municipal. A estratégia era clara, tratava-se de assegurar uma solenidade laica e republicana que fizesse o contraponto com a festa religiosa e popular do Santo António. Aproveitava ainda o clima de arraial e confusão para realizar as suas manifestações contra a monarquia.
Camões estava de novo em maus lençóis, tornara-se republicano e ateu! E carbonário!
A partir daqui, a vida do poeta transformou-se num verdadeiro inferno:
O Camões republicano é sucessivamente confrontado com o verso e o reverso da mesma medalha, exibe pedigree e é molestado por isso, vai defender as colónias e é criticado por isso, sem saber mais o que fazer, disfarça-se com múltiplos apelidos, e nos dias que correm, no seu dia, faz tournées para animar os emigrantes.
Se fosse vivo, se soubesse da independência a perder-se, exclamaria como da outra vez – “Antes a morte que tal sorte”!

1 comentário:

Anónimo disse...

Camões é meu e não vo-lo empresto.

Grande queixinhas!