Férias
Estava a entrar naquele estado de sonolência, que o sol provoca, depois de um reconfortante banho de mar, quando a minha filha Margarida de seis anos, sentando-se ao meu lado, a olhar o oceano, pergunta:
-Ó Pai, o que há no outro lado do mar?
- A América...onde vive a tia Catarina – resposta imediata.
Este curtíssimo diálogo despertou-me da sonolência e deixou-me a pensar. Há 500 anos
como teria respondido o pai à sua filha? Aliás, há 500 anos atrás, muitos pais se
puseram diante deste mistério, e partiram, largando família, terras, bens, à descoberta de “novos mundos para dar ao Mundo”. Tinham uma alma grande como tão bem descreve Fernando Pessoa:
“E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.
E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.”
Que diferença! Que pequenino me sinto com tão pequenina resposta!
Hoje, que ambições nos movem, o que nos faz “partir”? Dinheiro, bem-estar,
sucesso, prazer e que mais? Ou pior ainda, será que já nem perguntas nos fazemos?
Hoje sabemos mais, muito mais, mas não será que estamos bem mais aquém?
E mais uma vez o poeta me vem à memória:
«Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
……………………………………………
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!»
Estava eu absorto nestes pensamentos, quando escuto a Margarida, a fazer a mesma pergunta, desta vez à mãe, provavelmente insatisfeita com a minha resposta:
-Ó mãe, o que há no outro lado do mar?
-África…onde vivem a tia Isabel e o tio João.
1 comentário:
Caros amigos,
bonitas as palavras do poeta, que também me tocam a alma.
Mas convenhamos que os antigos partiam à descoberta, porque não tinham família em todos os continentes...
Boas férias!!
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