A minha grande esperança Sr. Ministro,
Exmo Sr. Ministro da Saúde,
Dr. Correia de Campos,
Hoje ao ler o jornal, fiquei contente - queira perdoar-me o excesso de sentimento -, mesmo muito contente, de me ser dado viver neste tempo. Não quero com isto dizer, que a vida corre sempre de feição, mas pressinto uma grande esperança, Sr. Ministro!
Por exemplo, há um ano atrás, comprei uma casa. Como deve calcular o Sr. Ministro, este foi um passo de grande responsabilidade. Comprometi-me, então, com o banco, a completar o pagamento da habitação dentro dos próximos 45 anos (já só faltam 44!! E estou até a pensar dar uma grande festa, com os meus amigos, para festejar os meus 75 anos, na que será, a minha casa!). Confesso, que não contava com a subida exorbitante da renda, nem com o aperto financeiro que viria a seguir, agravado com todos os aumentos, que aliás, o Sr. Minitro também deve sentir. O Minipreço, tornou-se o meu supermercado de eleição... A minha grande esperança Sr. Ministro, é pensar que não faltará muito até poder entrar num supermercado, e furtar sem receio, os bens essenciais de baixo valor. Sim, porque acredito num governo coerente, que para resolver o problema da sobrelotação das prisões, da delinquência juvenil, da celeridade da justiça, irá descriminalizar o furto!
Depois de mudar para a minha nova casinha, tive o azar de conhecer a admnistradora do meu condomínio. Ai, Sr. Ministro, pessoa difíiiicil!!!... Daquelas que nos incomodam mesmo a vida. Num dos muitos acessos de fúria que tenho tido com esta questão, nunca me passou pela cabeça “limpar-lhe o sarampo”, porque, não sendo eu especialista na matéria, calculo que o código penal diga que “limpar o sarampo” a alguém é crime. Seria incapaz de viver num país que dissesse o contrário, e estou certa que o Sr. Ministro concordaria comigo. A minha grande esperança Sr. Ministro, é dentro em breve, poder sugerir-lhe a eutanásia! Sim, porque é disto que se trata não é?! De ajudar pessoas difíceis?!
Sr. Ministro, já vão longas estas linhas, e tenho medo de me perder. Soube que teve mais uma maçada por causa do aborto. Aqueles fanáticos da Ordem dos Médicos, a virem dizer que o Código Deontológico condena o aborto, e a falarem de respeito pela vida humana, e esses moralismos rebuscados. Não se faz! Se o código penal foi alterado, e diz que é bem assim, é porque é bem assim!
A minha grande esperança Sr. Ministro, assenta na capacidade de inovação! De ir lá, bem ao fundo, onde estão os alicerces, as bases de tudo, a Pedra Angular, e revoltar tudo! Poder imaginar as nossas crianças (se ainda houver crianças...) a crescer num país assim, seguro. Adaptável, mas seguro. Moldável, mas seguro. Comove-me muito Sr. Ministro. Queira perdoar-me o excesso de sentimento, mas diria até, que estou com vontade de chorar...
3 comentários:
Muito, muito bem!
Só posso dizer que partilho dos mesmos sentimentos (à excepção da administradora do condomínio, pois não a conheço)
Li este postal a sorrir, a ironia é uma arma terrível e esta carta dispara na direcção certa. É também uma sugestão à revolta civil contra a sovietização em curso. Estou a exagerar?! E como poderei classificar a exigência (e a ingerência) do Ministério Público no juramento de Hipócrates? O mesmo que compromete os médicos com a vida?! Qual será a próxima desfaçatez?
Parabéns pelo postal.
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