domingo, 21 de outubro de 2007

South África

Foi depois do ourives ter gravado o nome, de duas crianças terem conduzido a taça até o centro do campo e de Sarkozy ter entregue a taça, que os jogadores levantaram Thabo Mbeky. Este gesto não é só uma vitória desportiva é a história de um país que se ergue. E, então, lembrei-me de tudo, do traço da memória. De Johanesburgo, dos mineiros moçambicanos, das crianças negras a venderem na rua o "Star". De Soweto, da luz negra do pó. Das noites fechadas no tempo do apartheid, quando defronte da casa se ouvia os homens a ler a Bíblia em voz alta na igreja protestante. Do Gospel, a alma profunda dos negros, das vozes que procuram Deus e o amor.Das crianças descalças nas bermas das estradas, e dos batustões, terra de ninguém, sangue da cor da pele. Lembro-me do Padre Pierre sentado na cadeira de verga, no alpendre da casa, dizer-me a cor da pele. O branco é o lastro, o luxo, o negro, o batustão, o pó. E sempre, sempre do canto, na missa ao ar livre de domingo, que durava toda a manhã. Dos surfistas idosos de Durban, da música dos Zulus, da grandeza de Mandela por ter evitado a guerra civil. Isso foi dantes. Há muito tempo. Durante o apartheid, quando cheirava a guerra. Quando as cidades eram dois riscos e a essência era a pele. A cor das mãos, dos braços e da dor. Isso nunca se esquece: afirmar o valor e a verdade por causa da cor. Obrigado "Springboks". A coragem, a determinação e a força são a alma. Amanhã é domingo. Vai ser uma festa imensa. As igrejas vão encher-se, os missionários católicos irlandeses e os pastores protestantes irão falar nos dialectos locais, porque nos dias de festa todos têm de perceber bem o que se diz. Vai-se rezar pela terra manchada, pelos filhos da cor, agradecer o chão que pisam. South África amanhã vai ser uma oração. Como no Gospel. No choro do canto. Quando a alma se dobra sobre a terra e lhe suga as raízes.

4 comentários:

joshua disse...

Realmente, quanto menos bem-estar e desenvolvimento, maior o paradoxo da alegria, da simplicidade e do Amor.

Eu que o diga no Brasil.

joshua disse...

Quando lá estive.

Anónimo disse...

Curioso: os brancos do rugby sul africano sãio gente sem bem-estar e desenvolvimento?!
Pertinente, Gito, esse associar da festa do desporto aos sinais de reconciliação nacional, na África do Sul...

Anónimo disse...

Tambem só contiei uns 3 negros nessa equipa da reconciliação nacional.

Mas o Gito se lá esteve lá sabe.

Ou talvez não, a avaliar pelo que escreve neste site.

Teremos de perguntar a alguém outro... até pode ser que sim, que tenha razão. Mas o problema de quem passa a vida a dizer asneiras é que quando fala a sério ningem acredita. Muito menos confia...

Abraço em Cristo