segunda-feira, 30 de julho de 2007

Bergman, o sec.xx

Morreu esta tarde quando as agências anunciaram a sua morte. Com Tarkovsky foi o maior cineasta do cinema europeu. Este filmou a Fé, o homem diante dela. Bergman filmou o Eros, as resiliências da alma, a dúvida, os actos humanos. Aborrecia-se quando diziam que a sua influência era Kierkegaard. Queria estar perto do Díonisos de Nietzsche, atormentava-o o sofrimento da vontade, a chama do fogo.Bergman nunca filmou o acto de consumir, as drogas como derrota do homem, como fazem os medíocres. Mas filmou o que está antes, a génese e o príncipio da crise, a ruptura existencial: a solidão, a incapacidade de amar, o degelo das relações, o mal estar que o outro provoca, a violência dos sentimentos como entidade anónima que supera o eu, a ruptura com qualquer horizonte de sentido. Em Bergman o acto de viver é sempre um traço instável, as coisas assumem-se, não como um valor, mas como um desafio que se tem de incorporar. Veja-se a questão da afectividade e de como esta é quase sempre uma violência, remetendo para uma animalidade incontida ( " O Silêncio", " Lágrimas e Suspiros", "Persona", " Mónica e o desejo"). Bergman encarnou em toda a segunda metade do sec xx, as dúvidas do homem depois das guerras mundias, e os significados da ausência de sentido. O último filme "Sarabanda" era a possibilidade, o violoncelo imenso, infindável, que no recorte da tela branca procura o repouso, a recta interminável que se estica na busca de um fim.

6 comentários:

JSM disse...

Extraordinária descrição do universo de Bergman! Vi quase todos os seus filmes na minha juventude, eram feitos de silêncio e grandes pausas que davam expressão às expressões dos seus personagens. Os actores eram um núcleo restrito. Como dizes, traziam o eros para a boca de cena, um dos seus atractivos, mas no fim saímos do cinema com menos esperança.
Um abraço.

Anónimo disse...

Bem, Gito, o seu texto parece indiciar que o blogue ainda tem possibilidade de recuperação...

Anónimo disse...

Este comentário 'amargamente anónimo', quebra com a beleza do olhar sobre o humano que este texto contém.
Obrigada Gito!

Anónimo disse...

Sideias, você tanbem faz parte da guarda pretoriana?

Anónimo disse...

Sil�ncio....

Anónimo disse...

Muito bem!
Coisa que vós não praticais, jogadora de xadrez...