Quando será a nossa vez?!
Em conversa com amigos, comentávamos há dias a nossa infância. Foi "o tempo dos grandes”. Éramos os pequenos com o estatuto que isso implicava. Quantas vezes esperávamos em vão que aquele pedaço de bife ou doce chegasse “vivo” à nossa vez de nos servir. Eu sei que éramos muitos. Que aguardávamos com deferência e secreta ansiedade um pedacito do chocolate que um tio trouxera da Bélgica! O nosso lugar na hierarquia dos privilégios era claro. Os crescidos estavam deveras em primeiro em todos os protocolos. “Se bem me lembro”… na TV só havia 15 minutos de desenhos animados por dia. E vivó velho!
Hoje, cá em casa, não é nada assim com os nossos principezinhos. Com a minha maturidade chegou o "tempo dos pequenos"… que são muito exigentes, diga-se. Têm sempre lugar de honra na sala e no carro até se sentam em tronos! Que nunca lhes falte o melhor pedaço! Ou o iogurte, que vamos comprar à última da hora ao fim da tarde depois de um dia de trabalho. E a última banana do cesto da fruta não será para mim de certeza - nem que seja pelo exemplo que tenho a dar…
Foi então que nos pusemos a pensar: quando será o nosso tempo... de gozar a nossa vez?!
5 comentários:
A propósito do que aqui escreve,lembrei-me da minha infância,que foi um bocado complicada,em termos financeiros:para que eu e os meus oito irmãos tivéssemos
um Futuro melhor que o deles,os meus pais-com realce para a minha Mãe,que,além de ter de olhar pelos nove filhos,sem infantários,trabalhou sempre "como uma moura"na empresa que então começaram.Claro que tiveram de contar com a nossa colaboração,em vários aspectos.
Mas isto para dizer que,principalmente a minha Mãe, sempre se preocupou em que nós,as crianças,tivéssemos o melhor pedaço,às vezes sabe Deus com que sacrifício.E ainda hoje,já adultos, e felizmente com outras condições económicas,fruto de muito trabalho,continua a ser assim...
O voso tempo de gozar vem depois do dever cumprido. Mas cuidado ,os pequeninos não podem ser reis em miniatura, também têm de saber que não é tudo para eles, partilhar com os outros.
Mãe de oito e avó de sete
Obrigado Cristina Ribeiro pelo seu testemunho e pelas suas simpáticas vistas. À "avó de 7" obrigado pelo sábio conselho! :-)
Caro companheiro de tertúlia
Você tocou com simplicidade e arte na ferida do nosso tempo. A educação. Quando será a nossa vez?
Uma pergunta quase absurda que me transportou para a fábula do 'homem do rapaz e do burro'! A nossa vez, nessa ótica, já foi. O incentivo de crescer para ser, ou para ter, deixou assim de existir. Por essa razão os filhos não querem sair de casa dos pais, não querem ser independentes. Independência, que estranha forma de vida! Não tenho filhos, e por isso, em termos descendentes, pertenço a uma categoria familiar em vias de extinção, o tio, espécie, como outras, que deveriam ser protegidas. Mas temos que ter paciência, primeiro estão os golfinhos e o lince da Malcata!
Peço desculpa por ironizar em assunto tão sério.
Um abraço e parabéns pelo seu postal.
Caro JSM: Só para dizer que Tio é um extraordinário estatuto e possui um privilegiado “ponto de vista”. Eu não prescindo do meu estatuto de tio. Sou tio há muito mais tempo, tenho até mais prática. Abraço!
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