sexta-feira, 1 de junho de 2007

Eu gosto de Música no Coração, da Mary Poppins e de Julie Andrews

E então? É isso que eu sinto e não tenho vergonha: Julie Andrews foi a musa da minha infância. Aliás, várias vezes “relatei” à minha filha de seis anos, o filme Música no Coração (Robert Wise – 1965) e recentemente até fomos todos ao teatro assistir à excelente adaptação do musical por La Féria. O filme marcou a minha infância e considero, para o género e à época, uma excepcional realização do cinema.
Compreendo que para as luminárias reinantes, herdeiras do jacobinismo “bem pensante”, o filme seja considerado mau e até algo perverso. O optimismo e a harmonia são duas perspectivas mal consideradas na dialéctica da luta de classes em curso.
Neste filme “conto de fadas” a Igreja Católica tem um papel digno, as freiras, para escândalo da nossa culta “polícia de costumes”, por uma vez saem das anedotas. Pior: uma família austríaca, burguesa e “fascizante” possui princípios e valores, enfrentando com coragem a encarnação do mal que no Ocidente é o nazismo. Finalmente inaceitável para a estética marxista, temos uma esplêndida banda sonora melodicamente vigorosa.
A minha filha Carolina (de forma diferente) encanta-se como eu me encantei. É seduzida com a figura maternal de “Maria” Julie Andrews, adora os vestidos das miúdas e as suas saias que fazem roda bem aberta. Trauteia canções de fácil memorização e, parece-me, acredita que o mal pode ser vencido e que o mundo é um sítio onde sempre poderá ser feliz.
De resto, quanto à urgência do erotismo nos heróis e mitos contemporâneos, parece-me que muita gente tem ainda de acordar estremunhada para uma dura realidade: a vida das pessoas comuns, se bem que regida pela sua sexualidade, nunca será euforicamente plena de sexo e embriagante romance. Essa é uma redenção que a sociedade de consumo nos quer vender há 40 anos. E essa será a grande depressão da modernidade.

1 comentário:

MRC disse...

Muitos parabéns pelo post.
Está muito bom.
Há coisas que precisam ser ditas e desmascaradas, ainda que inevitável e, por vezes, involuntariamente também acabemos por partilhar e ser cúmplices delas.