Nesse tempo
Foi nesse tempo.Na segunda classe,ou terça, antes ou depois. Lembro-me desse tempo, do sol, da luz, e da imagem. Era o tempo das cerejas, quando se saltava o muro depois de jantar, da lota da Nazaré, dos carapaus e das sardinhas, quando os meus tios se reuniam em casa da avó, ao domingo á noite, e a tia Aurora começava a cantar e, ás escondidas, a avó me chamava ao quarto e me dava uma moeda para "os rebuçados dos cromos" como me dizia. Lembro-me. Do carvalho, de estar lá sentado,em frente de casa, no fundo do caminho. Do meu pai ter chegado, de ficar ali sentado com o Santo Amaro. Era o presidente do clube, fazia-nos rir, adormentava-se em todo o lado, era muito gordo, e usava umas ceroulas imensas que lha caíam das calças quando dormia,mas ninguém ousava dizer-lhe. Chegou a minha mãe com uns copos pintados de azul e amarelo verticais que ainda existem, com limonada. Subimos e o meu pai ligou a televisão. Eram dois botões enormes, pretos, no canto inferior direito do ecrãn, que ninguém ousava tocar, só com autorização.O meu pai disse que agora era o hino. Fez-se silêncio e eu percebi.Lembro-me. Foi a primeira vez que soube o que era o hino.Havia a taça suspensa no ar e o meu pai disse que ele era o presidente.Era calvo e sorria muito. Não me recordo se houve golos ou quem ganhou. Mas era o começo do Verão, das férias, e do meu pai. A Taça é muito mais que um jogo.É a terra, o cheiro antigo, o sal e as noites de lua cheia. Lembro-me disso. Muitas vezes me lembro.Do começo.Nesse tempo.
P:S. - Muito dos meus companheiros do blogue amanhã vão passar um mau bocado. Coragem, é nas derrotas que o espírito se constrói...
1 comentário:
Gito, Caro amigo
Quando o Liedson marcou, o verde já esmorecia, com tempo extra e penaltys, um outro azul cantaria!
Mas podes ficar com a Taça porque a vitória é merecida.
Um abraço.
Post-scriptum: Bonitas e saudosas as imagens da tua infância...na Nazaré! E a pergunta inevitável é: o que faz um nazareno em Alvalade?!
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