Portas
O que há nele direito que lhe permita representar a direita?
Ei-lo irmão daquele irmão pouco recomendável. Irmão antagónico ou simétrico?
Quem é que reside nele?
O jovem turco que fez da promiscuidade das noticias o conteúdo principal do seu jornalismo?
O mentor do Monteiro que pelas costas lhe mentia?
O pinoca que sai à rua com o fato a condizer com a camisa, a camisa com a gravata, a gravata com o lenço, o lenço com as meias, sem esquecer os botões de punho acertados com a cor do relógio, e todos os dias em tons diferentes?
O professor da Moderna metido numa aliança confusa com poderes escroques?
O deputado que durante dois anos, no parlamento, se remeteu a um silêncio integral para enervar, envenenar, o líder que lhe sucedera no partido?
O actor despudorado que, no final do debate televisivo com o mesmo líder, se intrometeu por entre as câmaras para ir saudar fraternalmente, como Caim, aquele que ele ferira de morte com os seus ardis?
Mas nenhuma destas habilidades o credita como homem direito, antes mesmo de ser homem de direita.
Não que lhe sejam negados os talentos pretorianos. Todavia, a sucessão de gente que pelo caminho repete o refrão ‘Também tu, Paulus?’ torna o seu percurso, no mínimo, sinuoso.
Porque não basta ser tribuno eloquente, invocar referências conservadoras e dar, de quando em vez, uma estocada na esquerda histérica, como, por exemplo, a propósito do ‘submarino’ do aborto (quando se fala em aborto está-se sempre a baixo do nível do mar…), para recolher a adesão dos que não são da esquerda.
A demagogia repugnará sempre aquela direita que tem a nobreza da atitude como um ponto de honra. E que olha para as vitórias e os triunfos conseguidos a golpes de deslealdade como coisas bastardas.
O excesso de imagem construída corrói a veracidade da mesma.
A referência católica não poderá ser táctica ou, tão pouco, estratégica. É vital, incontornável, óbvia. Muito pior do que ser insultado como beato é ser-se tido por alguém com os valores cristãos (expressão à qual se acolhe a massa dos desvitalizados da fé: dos cristãos viúvos de paixão pela glória de Cristo na história!).
Um cristão na política é, antes de mais, um cristão! Fiel nos sacramentos, servidor do próximo –mas não servo de interesses-, ousado no discurso, escrutinador agudo do estado da nação, mas divertido no savoir faire face à menoridade mental da opinião pública!
Não suspeitamos da contagem que lhe atribuiu 75% dos votos na recente vitória. Esmagadora! Todavia, a pergunta mantêm-se: à custa de que comercio conseguiu fazer-se rodear de tal camaradagem unânime?
Pelo que me diz respeito, Portas por Portas, vedeta por vedeta, continuo a preferir Jim Morisson: nele o tom não era declamado. E a sua autenticidade humana permanece dasafiante…
2 comentários:
muito bem, Pope!
vejo que começa a dizer coisas com cabeça, tronco e membros (sem cometer injustiças primárias).
cumprimentos,
f (sem ponto)
Extraordinária caricatura do leader da direita que não há... ao mesmo tempo que traça o perfil do leader da direita que Portugal precisa.
A pena na mão certeira guiada por outros desígnios...
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