quarta-feira, 11 de abril de 2007

EIS O HOMEM

Fui confrontado, em mais uma Sexta-Feira Santa, com o “Eis o Homem” de Pilatos. Já antes tinha escutado a leitura de Isaías, que me lembrou a comunhão de misérias que Jesus quis ter connosco.

Olhar para o Homem que Pilatos nos mostra, o Jesus desfeito pela “estrutura”, desperta a nossa condição de filhos de Deus, move o nosso coração e interpela a nossa mente. Faz-nos ver que próximos estamos das outras vítimas radicais das “estruturas” do nosso mundo, não somente das vítimas da violência e da pobreza, mas também das vítimas da cultura consumista, da emulação centrada na futilidade e na preocupação com a imagem e ainda das vítimas da obsessão crescente com uma noção desequilibrada de produtividade.

Lembrei-me do Vale de Acór, das pessoas vítimas da “estrutura” que vivem na sua comunidade terapêutica para toxicodependentes. Quando as vejo ou me lembro delas, muitas vezes sem eu mesmo o saber, o que sinto é “Eis o Homem”. Todos somos aquelas vítimas, até que entreguemos a Deus a nossa fraqueza e Ele nos liberte.

A intensidade e a frequência do convívio com este sentimento – de que naquele sofrimento, em que a humanidade da “estrutura” dificilmente se reconhece, está o Homem que Deus ama, a Sua matéria-prima – fazem crescer. Todos, os que trabalham diariamente na comunidade terapêutica, que a visitam e se lembram dela e os que nela vão caminhando para a sua libertação, são aqueles a quem Pilatos proclamou “Eis o Homem” e não ficaram insensíveis.

Estar “fora de estrutura” é sobretudo ter a capacidade de reconhecer a “estrutura”, o que apenas nos é dado se o nosso coração não for de pedra, porque só reconhecemos a “estrutura” nas vítimas que ela, fria e formal, nos apresenta e de que não nos conseguimos desligar.

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