sábado, 28 de abril de 2007

Lidia

Lídia vinha de regresso das praias da costa da Caparica com as suas amigas Fernanda e Catarina quando, a meio da ponte 25 de Abril, se deparou com um carro parado e fora dele um homem mostrando sinais de se querer suicidar.
Lídia pára, sai da viatura e dirige-se ao indivíduo:
- Então bom homem, que se passa ?

Este, numa voz embargada, foi desfiando todo o seu sofrimento e solidão. O seu olhar pedia ajuda, pedia Alguém que lhe desse sentido para o sofrimento. Pedia Comunhão.

Lídia olhou para o homem como se olha para um animal abandonado, e disse:
- Percebo! Tens todo o direito de escolheres a morte. Mas não preferes uma morte menos dolorosa? Comprimidos, gás, sei lá?!...
Veio-lhe então à ideia escrever um texto, poético, sobre o direito à morte.
Voltou apressadamente para o carro, onde a sua amiga Catarina ensaiava ao retrovisor, o seu sorriso mais verdadeiro e Fernanda desesperava, pois o seu-mais-que-tudo ia dar uma entrevista na TV.
Dirigiu-se para casa, onde se pôs de imediato a redigir o texto, concluindo-o assim:
«Onde estiveres serás sempre meu irmão e eu tua irmã».
Depois perguntou-se o que teria de facto acontecido ao coitado do homem: «Ter-se-á mesmo suicidado? Bom, amanhã leio nos jornais. Agora vou dormir, que a praia cansa!».
Guardou o texto na memória do PC. Poderia servir para algum programa da televisão, onde fosse convidada para falar do direito de escolher a morte. E foi dormir…descansadinha.

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