Um armário
Fizeram partilhas lá em casa e tocou-me um armário! Esperava outra coisa, mas foi à sorte!
Preto, enorme, habita no corredor, é armário trabalhado, mas armário, serve para guardar loiça, rimas de pratos, abre-se nos dias de festa para dar à luz o melhor serviço.
Da longa herança, será provavelmente o último companheiro, fiel, impossível de arredar, difícil de vender ou arrumar, irá por certo condicionar o resto da minha vida.
Já não penso em casar, onde teria algum préstimo, mas tem de caber na casa, que mais cedo ou mais tarde, vou ter que alugar! Por causa dele não posso viver na cidade, as duas ou três assoalhadas ao meu alcance, não contam com estes armários. Vou ter que emigrar para a província, sujeitar-me a um desses andares antigos, mais velhos que antigos, com um pé direito razoável, para que o meu armário continue a respirar. Eu ajeito-me em qualquer lado, o armário tem outras exigências.
Ainda pensei em transformá-lo, dividi-lo, dar-lhe outro destino, mas desisti da ideia. Não o quero mutilar, isso seria uma injustiça, hei-de transmiti-lo inteiro. Tal como o recebi.
O meu pai, há muito tempo, adaptou-lhe um pequeno bar, incluso, que ainda existe, e assim continuará. No resto, a função de armário manter-se-á, ali guardarei os meus pertences.
Sei que é de boa madeira, de sucupira, há-de portanto durar mais tempo do que eu, e fico feliz por isso. Foi este armário que me tocou na herança.
Hei-de respeitá-lo e preservá-lo.
Preto, enorme, habita no corredor, é armário trabalhado, mas armário, serve para guardar loiça, rimas de pratos, abre-se nos dias de festa para dar à luz o melhor serviço.
Da longa herança, será provavelmente o último companheiro, fiel, impossível de arredar, difícil de vender ou arrumar, irá por certo condicionar o resto da minha vida.
Já não penso em casar, onde teria algum préstimo, mas tem de caber na casa, que mais cedo ou mais tarde, vou ter que alugar! Por causa dele não posso viver na cidade, as duas ou três assoalhadas ao meu alcance, não contam com estes armários. Vou ter que emigrar para a província, sujeitar-me a um desses andares antigos, mais velhos que antigos, com um pé direito razoável, para que o meu armário continue a respirar. Eu ajeito-me em qualquer lado, o armário tem outras exigências.
Ainda pensei em transformá-lo, dividi-lo, dar-lhe outro destino, mas desisti da ideia. Não o quero mutilar, isso seria uma injustiça, hei-de transmiti-lo inteiro. Tal como o recebi.
O meu pai, há muito tempo, adaptou-lhe um pequeno bar, incluso, que ainda existe, e assim continuará. No resto, a função de armário manter-se-á, ali guardarei os meus pertences.
Sei que é de boa madeira, de sucupira, há-de portanto durar mais tempo do que eu, e fico feliz por isso. Foi este armário que me tocou na herança.
Hei-de respeitá-lo e preservá-lo.
6 comentários:
Meu caro JSM.
Compreendo o seu problema e a ligação que o armario faz ao seu passado. Mas condicionar todo o se futuro às dimensões de um armário, será talvez exagerado...Casando ou não porque não pensa no problema ao contrário... a partir de um grande armário,pode sem o destruir construir o resto da casa. Bar já tem.Provavelmente dará para um quarto de crianças, que desde a nascença entrarão na idade do "dito", deixando-lhe o tempo que deveria educá-las livre...Com alguma habilidade poderá com um telhado bastante inclinado, preto,pensar que está , sei lá, na Suiça...Tem um mundo de oportunidades à sua frente com esse armário - Sempre è a sua herança!Um abraço!
Agradeço o anónimo incentivo que me fez ver o armário de outra maneira, afinal, a alavanca de que preciso para levantar o mundo! Seria então um armário princípio de vida, evidência multiusos - lá vai ele a caminho da praia, armário roulotte, residencial sem estrelas, no futebol a servir bifanas, armário-escola com as tais criancinhas a haver...armário plano de urbanização, não é impossível conhecendo as pessoas certas! E não seria surpresa ver um telhado a erguer-se do nada, a partir do armário, depois as paredes, por fim os condomínios fehados à volta do armário! O que um armário destes é capaz de fazer, ninguém imagina!
Mas teve graça o seu comentário e por isso retribuo, explicando-lhe o que de facto aconteceu: a verdade é que não me conformei com o armário. Estava de olho na cómoda e por causa disso zanguei-me com o pobre do armário. Passava no corredor sem olhar para ele, ignorei-o até ao dia de ontem, em que mal iluminado, esbarrei contra ele. Foi melhor assim - de homem para armário esclarecemos todas as dúvidas, estreitámos todas as certezas e o texto publicado é apenas a assinatura que confirma uma inseparável união. Assumi o armário e ponto final.
Um abraço também.
Meu querido João,afinal mais uma história com final feliz!
Um beijo
Margarida
Meu caro JSM
Será que você está a chegar à "idade do armário"?
Genial! O texto, o comentário e a resposta ao comentário.Porque é que não se juntam para "desconstruir", não só o armário,mas a estante, a mesa da sala,a escrivaninha,enfim,a casa toda?!...
Para o anónimo que me pergunta se estou a chegar à 'idade do armário', respondo que provávelmente nunca a ultrapassei definitivamente. Portanto não estou a chegar estou a tentar sair.
Mas o armário persegue-me, como se vê.
'Alea jacta est...'
Caros A.Z.
Ainda bem que gostaram das partilhas e que olharam para além delas.
Um abraço.
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